terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Paixões S.A.

El Brujo ligou quando me preparava para dar cabo de uma barata na janela da área de serviço. o bicho – a barata, e não El Brujo – estava com sorte. Atendi o celular no mesmo momento em que o nojento inseto voou pela janela e para a noite timidamente chuvosa.
“Alô...”
“Então: parece que estamos com poucas opções. O Beirute de sempre, uma cerveja aqui em casa, ou um daqueles bares da moda onde podemos sentar para rir da cara dos playboys e patricinhas...O que você me diz?”
“Bem...”, suspirei. “Acho que é Beirute. As demais opções são caras ou claustrofóbicas...”
“Tal como imaginava: Beirute. Daqui a meia-hora. Aproveita e me devolve disco do Thelonius Monk. Do contrário corto a tua garganta com uma colher...”
Meia-hora mais tarde, lá estávamos nós, sentado de frente pra rua da comercial, comendo um quibe cada e encarando a primeira cerveja a despeito do frio noturno. Alguns rostos não eram estranhos. Outros deveriam sê-lo. Ignoramos o todo e falamos sobre a besteiras de sempre: o mundo em crise, as tragédias que vinham e voltavam, os ídolos que perderam a magia, as ilusões daqueles que amávamos, além do eterno rock’n’roll. Na terceira cerveja, El Brujo fez com que a realidade caísse sobre a mesa tal qual avião no rio Potomac.
“O que você faz com as tuas antigas paixões?”
“Que paixões”, respondi.
“Aquela coisa de paixão de adolescência, ou até mesmo paixões por pessoas que você não conhece pessoalmente...”
“Sei lá. Faz parte do todo, ou algo assim...”
El Brujo soltou uma gargalhada e sorveu o resto da cerveja em seu copo de mocotó.
“Que resposta de merda, hein?”, ele disse.
“E essas perguntas sobre paixão? Você começou...”
“Eu sei, eu sei. E você continua apaixonado pela Fabíula Nascimento?”
“Um pouco. Agora tô mais na da Jennifer Tilly...”
“Você escolhe a dedo, né?”
“Convenhamos: Jennifer Tilly é um tesão...Dá de dez em qualquer Bundchen da vida...”
“E ela tem uma irmã que também não é de se jogar fora...”
“Sei. Meg Tilly. Mas é a irmã tímida. Nem tem um corpão de mulher fatal. Já a Jennifer...”
“Porra...”
“Pois é...”
“Outro dia”, continuou El Brujo, “vi um filme com a mesma turminha do Amélie Poulain...uma história muito estranha passada no pós-Primeira Guerra...”
“Sei, ‘A Long Engagement’ ou algo assim. Passou na TNT outro dia. Bem legal, mas com a mesma estrutura do Amélie Poulain...”
“A mulher procura o cara por quem ela é apaixonada...”
“Isso...arma um escarcéu pra encontrar o sujeito. Até rouba documento do governo...”
“Mas é um filme interessante...Tem boas cenas...”
“Tem. Aquela parte das trincheiras é bem legal...”
“É...”
Nisso chega o Cícero e pergunta se queremos mais uma cerveja.
“Por favor”, responde El Brujo. “E o cardápio, por favor.”
“Aliás, acabei esquecendo o Thelonius Monk...”
“É nisso que dá estar apaixonado...”

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A New Life...

Parece coisa de “Blade Runner”. Clima de filme noir, mas com fundo tropical made in GDF. Uma chuva que não pára, um frio perturbador, e uma vontade de permanecer horas na mesa do Beirute, bebendo cerveja, comendo quibe frito e jogando papo fora com os conhecidos. Agora que colaboro com uma rádio, não raro chamo El Brujo para tomar uma no bar, que fica ao lado, e comentar certas debilidades do passado. Não chegamos a conclusão alguma, e continuamos reclamando das mesmas pessoas, quando não de nós mesmos ou da tal da vida.
O garçom chega com mais uma cerveja e dois quibes. A chuva não dá moleza. E ainda tenho um monte de coisas para serem resolvidas. Mas é como diz a boa e velha máxima: "no retreat, no surrender"...