terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Garage Sale Revisited...

Eu e a ex reservamos as tardes de um final de semana para promover um garage sale típico de casal que se divorcia na boa, sem brigas, discussões, atentados em vagas de garagem ou madrugadas dialogando com delegados de plantão. Dias antes, anunciamos o evento pela internet para amigos e conhecidos, e enviamos a lista dos itens que seriam expostos.
Devido ao meu alto grau de persuasão e meu tino para os negócios, permaneci boa parte do tempo trancado no escritório do apartamento, colocando a leitura em dia e dando vazão à minha fértil imaginação por meio de contos e crônicas mil. De fato, nem queria muito me meter nessa história de venda. Deve ser meu lado moscovita. Enquanto as pessoas davam seus lances, barganhavam e fofocavam na sala, eu continuava enfurnado no meu quarto e fazia planos pra noite. Caso aparecesse na sala, na certa inflacionaria os preços ou receberia uma saraivada de balas e insultos. Basicamente, era tarde de mulherio.
Não demorou muito para que a sala se transformasse em um pandemônio feminino, embriagado de cerveja Bohemia, água mineral e porções de Ruffles. Havia uma criança, e a sucessão de choros e resmungos logo tomou conta do ambiente, devidamente seguida de frases tais como “que fofinha” ou “cuidado que quebra”.
Vendemos alguns móveis e utensílios domésticos, e colocamos a grana em um envelope de trejeitos mafiosos. Vamos usar mais tarde, para pagar a pintura do apartamento. O que sobrar, a gente divide. Uma vez que a cuia foi rapada, este apartamento ficou maior, com mais eco, com mais solidão. A sala parece um hangar. A suíte tomou ares de cela. Quem liga pra isso? Uma vez estava conversando com o baixista e a guitarrista da banda, e disse, em tom de brincadeira, que encheria a sala vazia de vagabundas e piranhas. Mas por não curtir esse tipo de profissional – gosto do jogo, mas as regras são tristes –, isso não vai acontecer. Shame on me...