sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Desgraça Passageira

Estava a caminho do Rio Sul no balanço violento de um 583 da vida, olhando para os tipos de Ipanema e Copacabana, e tentando descobrir qual a razão de tudo aquilo – se é que havia razão em Pitboyland.
O ônibus parara no ponto em frente à papelaria Cruz, na Nossa Senhora. Pela janela, percebi que havia uma pequena confusão na calçada. Um pequeno grupo de transeuntes se aglomerava ao redor da entrada de uma agência bancária. Aparentemente, uma senhora idosa caíra e, devido ao seu próprio excesso de peso, tivera dificuldade em se levantar da calçada. Logo, dois ou três pessoas lhe prestaram socorro e ela pôde, a duras penas, retomar sua posição relativamente erétil.
O elemento que chamara minha atenção estava, entretanto, acomodado ao lado da porta da agência. Sob um grosso e largo pedaço de cartolina, jazia, nos braços de um Morfeu mais democrático, um morador de rua, que pouco se abalara com o burburinho provocado pela queda da obesa senhora. Sequer levantou seu cobertor em celulose para verificar que bagunça era aquela que ousava perturbar seu sacrossanto e diurno sono. Sequer pôs o rosto para fora e soltou meia-dúzia de palavrões. Educado; mais, talvez, que aqueles que demoraram no auxílio à idosa.
E assim foi.
Vinte segundos se passaram, e o 583 seguiu sua rota.