quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Uncle Sukita Strikes Again!!!

Este ano, não comemorei meus 35 invernos com alarde. Não tinha clima para isso. Até saí com algumas pessoas, tomei umas cervejas e comi uns pedaços de bolo. Ganhei alguns presentes (inclusive da ex, que me deu – pasmem – um som para o meu carro...). E, mesmo assim, não teve clima para fazer festinha alegre. É fato que tomei todas no Beirute da Asa Norte. Só voltei pra casa às quatro da matina. Que se dane. Não quis mesmo fazer uma grande comemoração. Muitos nem ligaram para desejar os tais “muitos anos de vida”.
Ano que vem comemoro com um pouco mais de alegria. Assim mesmo, obrigado a todos que compareceram, que ligaram ou que enviaram mensagens.

Meu único amigo, El Brujo

Meu principal confidente para assuntos de divórcio e afins é um cara cujo apelido gera uma certa confusão: El Brujo. Talvez o leitor não saiba, mas estas terras tupiniquins estão apinhadas de “bruxos”. El Brujo, porém, não é nada famoso. Pelo menos não fora de Hardcore Brasília. Sua vida é cercada de mistérios e muitos acham que ele não passa de um débil mental, vagabundo, filhinho-de-papai. Antes mesmo de conhecê-lo em pessoa, ouvi duas anedotas acerca da figura.
A primeira relata que El Brujo estava em uma palestra de um certo “mago” que vendera milhões de livros e que, lá pelas tantas, em meio aos devaneios do dito mago, El Brujo levanta, interrompe o palestrante e solta, em alto e bom som, um “Porra, mas você só fala merda, hein?”; no que todos caíram na gargalhada. El Brujo, é claro, foi expulso por seguranças e processado por desordem. A segunda anedota é contada pelo mendigo bêbado da esquina da rua habitada por El Brujo. Esse bêbado às vezes dá a impressão de estar envolto em alguma aura hi-tech à la Matrix, com traços reluzentes saindo de seu corpo para maiores explicações e futuros estudos. Segundo o mendigo, El Brujo ainda nem havia deixado o Céu, quando Deus resolveu mandá-lo para a Terra como uma mensagem divina. Segundos depois de empurrá-lo em direção ao Planeta Azul, Deus foi perguntado por algum arcanjo se Ele não havia trocado as bolas e enviado o “pacote errado” ao invés do verdadeiro Salvador. Há males que vêm para bem...
El Brujo também costuma conversar com o cavalo do catador de papelão e com o buldogue francês de seu vizinho que trabalha na Zara.
Quando cheguei na portaria do prédio onde residia El Brujo, percebi que ele estava terminando de escutar “One of the Living”, da Tina Turner, e começando a ouvir “Infatuation”, do Rod Stewart. Foi então que uma senhora gritou comigo:
“Ei, moçinho, você vai para o apartamento 302?”
Respondi que sim.
“Então diz praquele boçal de merda abaixar esse som!!! Do contrário, chamo a polícia!!!”
Adentrei a portaria, subi os três lances de escada e bati na porta com certa força.
El Brujo abriu a porta. Vestia uma calça social cinza escura, uma camiseta regata branca e meias pretas. Saudou-me como de praxe:
“E aí, viadinho? Acordou cedo, foi? Quer um café?”
“Pode ser, valeu...”, respondi.
Eis o que El Brujo possui de mais insólito em seu apartamento de quarto e sala: agendas (muitas delas) repletas de recortes, anotações, comentários, fotos, desenhos, recortes e demais pedaços de papéis herméticos; uma espingarda de cano duplo que não funciona (mas que impõe certo respeito), herança de um avô que nasceu, viveu e morreu na França; um pôster do John Cleese interpretando o cozinheiro Mungo (somente para finos conhecedores...); postais com desenhos de Moebius colados na porta da geladeira com fita adesiva; três máscaras africanas decorando a parede na qual se encontra a televisão e os demais aparelhos de áudio e vídeo; vários engradados contendo seus LPs, CDs e DVDs; uma foto autografada e emoldurada do Tom Waits; outra foto autografada de um jogador desconhecido do Spartak de Moscou; estantes abarrotadas de livros (isso É insólito em um país como este...); um freezer quebrado e repleto de histórias em quadrinhos estrangeiras, devidamente embaladas e identificadas; um adesivo do Reino da Dinamarca colado na porta da geladeira que funciona (em caso de alimentos podres...); três tijolos usados como cinzeiros; caixas e mais caixas de arquivos (com recortes, artigos diversos e revistas antigas); um samovar original; entre outros objetos.
Eu entrei ao som de Rod “Coveiro” Stewart, segui El Brujo até a cozinha e sentei em uma das cadeiras que o anfitrião “pegara emprestado” de bares e botecos ao longo dos anos. O cheiro de café era bom e impregnava o ambiente. El Brujo serviu duas generosas xícaras e sorriu maliciosamente. Mais uma longa conversa seria iniciada.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Sobre o outro blog, mais ridículo e menos visitado...

Tenho outro blog, que comecei a escrever em setembro de 2004. Trata de assuntos variados, de situações insólitas, e principalmente de muita besteira. Os leitores – raros ou inexistentes – não deixam comentários, fato ao qual já me acostumei. Ainda assim, os momentos de rancor e mágoa afloram após alguns meses sem comentários. Resumindo: que se dane. Tenho mais o que fazer do que ouvir lamentações de gente que, durante anos, ficou enchendo o meu saco sobre as maravilhas da internet e que, quando finalmente concebo algo na tal rede, não deu e continua não dando a mínima para o que eu faço.
Eu gosto de escrever e isso independe da opinião dos outros.

Inocência

Enquanto escrevo isto tudo, algumas crianças lá embaixo, reunidas no parquinho, dão seus primeiros passos na direção do flerte. De um lado, sentados em um banco, cinco garotos falam e gritam sobre debilidades exibidas na TV. Do outro, passeando seus respectivos cães, três meninas cochicham algo. Um dos meninos liga seu celular e compartilha uma música funk de letras que beiram o pornô. Talvez seja exibicionismo. As meninas continuam cochichando. No que diabos os dois grupos estão pensando? Em amor? Em algo semelhante a sexo? Não é tão fácil assim, amiguinhos.
É um jogo cuja regra principal foi escrita por the one and only Lemmy Kilmister, segundo o qual “the chase is better than the catch...”.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

À mesa da Discórdia com Kafka

Foi durante mais um lanche noturno na temakeria com a ex. Estávamos falando sobre os móveis que venderíamos. Aí eu disse que a empregada não teria mais onde apoiar o prato do almoço, e aventei a possibilidade de comprar uma dessas mesas de botequim. Foi então que a bomba explodiu na minha cara; justo quando abocanhava o cone de salmão. “EUNÃOQUEROOUVIRNEMMAISUMAPALAVRASOBRECOMPRADEMÓVEIS!!!!!”. Não foi propriamente um grito mas ela estava bastante nervosa. Me perguntou porque eu sempre tinha que defender a empregada. Ameaçou embargar toda a operação de venda dos móveis, e mandar tudo para a mais reles das putas que parem. Realmente estava transtornada, me acusando de não mover um músculo sequer para procurar o advogado ou para anunciar a venda dos tais móveis. Segundo ela, eu nem conseguia mandar consertar o som da sala em menos de duas semanas. Fui tachado de preguiçoso e coisa e tal enquanto caminhávamos de volta pra casa. “Quem tem boca vai a Roma...”, dizia.
No dia seguinte, cedo, por volta das 7 da matina, ela levanta e vai até a cozinha. Eu fico na cama, mas não demora muito para que eu escute um grito de fazer Ingrid Pitt chorar de inveja. Pulo da cama tal Errol Flynn de cuecas, e corro até a cozinha. Descubro que, ao tentar regar a planta de estimação, a ex deu de cara com uma senhora barata que resolveu tomar posse do vaso no qual se encontrava a dita planta. A cascuda já estava no chão, esperando algo. A ex estava havia alguns metros, tremendo feito vara verde e implorando para que eu matasse a diaba marrom. Assim o fiz, por meio de uma chinelada de Havaianas digna de Shaolin de subúrbio. Até senti pena, pois acho que a tal barata já estava velha, mal se mexia para fugir e talvez tenha se assustado com a visão daquele gigante trajando camisola pink.
Moral da história: como qualquer pessoa, a ex tem seus momentos de mal-agradecida; eu sou rápido no gatilho de borracha (mas nem sempre); e Kafka não sobreviveria uma hora sequer neste apartamento.

Valendo Um Milhão...

Ela estava saindo para a sua caminhada matinal quando, pouco antes de adentrar o elevador, perguntou calmamente: “e aí? Você não vai arranjar uma namorada?”...
Catapimba.
Essa teve o impacto de uma Claymore posicionada sob os meus sacrossantos colhões. O fato é que não tive resposta. Permaneci calado, olhando para o vazio enquanto ela desaparecia na jaula metálica móvel fabricada pela Otis. Poderia ter respondido que aquele assunto não lhe dizia mais respeito, ou que simplesmente não estava pensando nisso por uma questão de prioridade (i.e. oficializar o divórcio, morar sozinho, e arrumar minha “nova vida”...). Mas não: fiquei com cara de debilitado mental olhando para o chão por uns cinco segundos antes de fechar a porta e voltar ao quarto para tomar meu café e escutar o noticiário.
Certas perguntas de pegam de surpresa, sem dó, feito tubarão branco saindo de algum regime.