quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Mais um Irlandês de Chinelos

Liguei para El Brujo para reclamar da vida e contar as novidades em Pitboyland.
“Então, já encontrou alguma gatinha na praia?”
“Não tive tempo pra isso. Mas comprei uma Havaianas nova.”
“Já foi tomar cerveja naquele pub da Paul Redfern?”
“Também não, mas acho que vou hoje. Aposto que vai estar cheio de gringo.”
Nesta época do ano, os gringos tomavam conta do pedaço. Com ou sem crise, se transformavam em urubus e se juntavam à fauna jovem de Pitboyland, atrás de sexo, cerveja, diversão e exemplos de “você-sabe-com-quem-está-falando” em festas e comemorações coletivas. Com o calor beirando os 38 graus – e mesmo com a probabilidade de temporais para o réveillon –, eu saí para tomar cerveja gelada em algum lugar aberto. Já no caso do pub, a história era diferente. Minha situação de divorciado pouco importava dentro de um lugar abarrotado de estrangeiros e mulheres libidinosas. Eu entrava no pub, sentava em uma das raras mesas vagas, era invariavelmente confundido com algum gringo, pedia um chopp e permanecia no local uma ou duas horas. Bebia umas cinco ou seis canecas, pensava na vida, imaginava os problemas que viriam já em janeiro, e pronto: pagava e voltava pra casa.
“E a virada? Vai passar como?”, perguntou El Brujo.
“Ainda não sei. Tenho algumas opções. Todas elas equilibradas.”
“Sei...”
“Pois é, não quero ficar em casa como um pobre coitado.”
“Tá certo. Vai à luta, caso contrário passam por cima de você...”
“Isso...”
Era muito fácil falar com El Brujo.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Sol, mulheres, cerveja e um universo de ilusões

Estou em Pitboyland. O vôo foi uma merda, após uma temporada de quatro horas em um aeroporto de merda com uma organização de merda. Seis meses atrás, com o divórcio orquestrado, o plano era passar as festas de fim de ano nesta cidade litorânea abençoada com uma vista linda, uma cerveja gelada e uma população de imbecis alienados medrosos. O dito plano, como era de se esperar, foi por água abaixo, na certa sabotado por alguma Iemanjá invejosa. Nada de apartamento vazio, nada de horas noturnas grudado em algum canal da TV a cabo, nada de comer sanduíches de pernil do Clipper o saborear um bolinho de aipim no café da manhã. Nada de levar mulher pra casa, ou convidar os VIPs para ver a queima de fogos em uma sala de frente para a fronteira Ipanema-Leblon. A esbórnia foi para o beleléu, e sequer mandou um cartão postal.
A ordem do dia é esquema família, a pior tortura para um recém-divorciado e seus mirabolantes planos de priapismo, bebedeira e anotações desconexas ao longo do dia. Visita a museus, tempo para descascar ovos de codorna e castanhas, tempo para acompanhar alguém até o supermercado, tempo para ouvir, pela enésima vez, as brincadeiras, reclamações e cobranças por parte de todos. Para completar a visão de Apocalipse, é gente falando sobre dinheiro, parente racista cobrando uma vaga no serviço público e um sem-número de desconhecidos que passam por mim tal qual personagens de algum filme ruim de Coppola.
Até arranjo tempo para tomar um chopp com um amigo em algum pub deserto – coisa raríssima em tempos de invasões bárbaras. Mas não é a mesma coisa. Não tenho tempo para pensar. Não tenho tempo para escrever algumas linhas. (continua...)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Los Buraquitos Infernales

Não raro tenho vontade de pegar a primeira moça que achar na rua e levar pra casa (ou, se a vontade for grande, executar o serviço no carro mesmo). As opções nem são poucas, mas todas merecem um estudo prévio; até porque não vou ser débil mental a ponto de entrar em outro romance. Isso sem falar no fato de não querer pegar dragão para ter de salvar algum reino ao qual não pertenço. Até fiz uma lista de mulheres; o tipo de lista que o sujeito faz em momentos de euforia exagerada. Tinha até título: “Estudo Inocente Acerca de Buracos Negros”. Bobo, muito imaturo. Mas nela constava uma dezena de muchachas, cada uma com um “nível de dificuldade” próprio, com uma especialidade e um sacrifício correspondente. Mais uma vez bobo e imaturo.
Lembro do dia em que mostrei a famigerada listinha, rascunhada em um pequeno pedaço de jornal com caneta PaperMate Futura preta, para o não menos famigerado El Brujo. Estávamos tomando uma cerveja na Rappel e ele disse:
“Isso vale ouro, cara...”
Perguntei porquê.
“Isto daqui mostra que você está passando por fases nessa história de divórcio.”
Novamente perguntei porquê.
“Cacete, sei lá, porra. Mas isto é bem legal. Uma listinha com mulheres que podem substituir a tua tensão e abrir os portões de uma nova fase nessa tua vida de pacotilha. Sacou?”
“Saquei.”
Não, não tinha sacado, mas era divertido e parecia fazer algum sentido. Afinal, cedo ou tarde, eu arranjaria alguém: namoro, flerte ou apenas sexo. Era uma simples questão de tempo. Até lá, era escutar mais El Brujo e pedir mais uma cerveja.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Garage Sale Revisited...

Eu e a ex reservamos as tardes de um final de semana para promover um garage sale típico de casal que se divorcia na boa, sem brigas, discussões, atentados em vagas de garagem ou madrugadas dialogando com delegados de plantão. Dias antes, anunciamos o evento pela internet para amigos e conhecidos, e enviamos a lista dos itens que seriam expostos.
Devido ao meu alto grau de persuasão e meu tino para os negócios, permaneci boa parte do tempo trancado no escritório do apartamento, colocando a leitura em dia e dando vazão à minha fértil imaginação por meio de contos e crônicas mil. De fato, nem queria muito me meter nessa história de venda. Deve ser meu lado moscovita. Enquanto as pessoas davam seus lances, barganhavam e fofocavam na sala, eu continuava enfurnado no meu quarto e fazia planos pra noite. Caso aparecesse na sala, na certa inflacionaria os preços ou receberia uma saraivada de balas e insultos. Basicamente, era tarde de mulherio.
Não demorou muito para que a sala se transformasse em um pandemônio feminino, embriagado de cerveja Bohemia, água mineral e porções de Ruffles. Havia uma criança, e a sucessão de choros e resmungos logo tomou conta do ambiente, devidamente seguida de frases tais como “que fofinha” ou “cuidado que quebra”.
Vendemos alguns móveis e utensílios domésticos, e colocamos a grana em um envelope de trejeitos mafiosos. Vamos usar mais tarde, para pagar a pintura do apartamento. O que sobrar, a gente divide. Uma vez que a cuia foi rapada, este apartamento ficou maior, com mais eco, com mais solidão. A sala parece um hangar. A suíte tomou ares de cela. Quem liga pra isso? Uma vez estava conversando com o baixista e a guitarrista da banda, e disse, em tom de brincadeira, que encheria a sala vazia de vagabundas e piranhas. Mas por não curtir esse tipo de profissional – gosto do jogo, mas as regras são tristes –, isso não vai acontecer. Shame on me...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Paixões S.A.

El Brujo ligou quando me preparava para dar cabo de uma barata na janela da área de serviço. o bicho – a barata, e não El Brujo – estava com sorte. Atendi o celular no mesmo momento em que o nojento inseto voou pela janela e para a noite timidamente chuvosa.
“Alô...”
“Então: parece que estamos com poucas opções. O Beirute de sempre, uma cerveja aqui em casa, ou um daqueles bares da moda onde podemos sentar para rir da cara dos playboys e patricinhas...O que você me diz?”
“Bem...”, suspirei. “Acho que é Beirute. As demais opções são caras ou claustrofóbicas...”
“Tal como imaginava: Beirute. Daqui a meia-hora. Aproveita e me devolve disco do Thelonius Monk. Do contrário corto a tua garganta com uma colher...”
Meia-hora mais tarde, lá estávamos nós, sentado de frente pra rua da comercial, comendo um quibe cada e encarando a primeira cerveja a despeito do frio noturno. Alguns rostos não eram estranhos. Outros deveriam sê-lo. Ignoramos o todo e falamos sobre a besteiras de sempre: o mundo em crise, as tragédias que vinham e voltavam, os ídolos que perderam a magia, as ilusões daqueles que amávamos, além do eterno rock’n’roll. Na terceira cerveja, El Brujo fez com que a realidade caísse sobre a mesa tal qual avião no rio Potomac.
“O que você faz com as tuas antigas paixões?”
“Que paixões”, respondi.
“Aquela coisa de paixão de adolescência, ou até mesmo paixões por pessoas que você não conhece pessoalmente...”
“Sei lá. Faz parte do todo, ou algo assim...”
El Brujo soltou uma gargalhada e sorveu o resto da cerveja em seu copo de mocotó.
“Que resposta de merda, hein?”, ele disse.
“E essas perguntas sobre paixão? Você começou...”
“Eu sei, eu sei. E você continua apaixonado pela Fabíula Nascimento?”
“Um pouco. Agora tô mais na da Jennifer Tilly...”
“Você escolhe a dedo, né?”
“Convenhamos: Jennifer Tilly é um tesão...Dá de dez em qualquer Bundchen da vida...”
“E ela tem uma irmã que também não é de se jogar fora...”
“Sei. Meg Tilly. Mas é a irmã tímida. Nem tem um corpão de mulher fatal. Já a Jennifer...”
“Porra...”
“Pois é...”
“Outro dia”, continuou El Brujo, “vi um filme com a mesma turminha do Amélie Poulain...uma história muito estranha passada no pós-Primeira Guerra...”
“Sei, ‘A Long Engagement’ ou algo assim. Passou na TNT outro dia. Bem legal, mas com a mesma estrutura do Amélie Poulain...”
“A mulher procura o cara por quem ela é apaixonada...”
“Isso...arma um escarcéu pra encontrar o sujeito. Até rouba documento do governo...”
“Mas é um filme interessante...Tem boas cenas...”
“Tem. Aquela parte das trincheiras é bem legal...”
“É...”
Nisso chega o Cícero e pergunta se queremos mais uma cerveja.
“Por favor”, responde El Brujo. “E o cardápio, por favor.”
“Aliás, acabei esquecendo o Thelonius Monk...”
“É nisso que dá estar apaixonado...”

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A New Life...

Parece coisa de “Blade Runner”. Clima de filme noir, mas com fundo tropical made in GDF. Uma chuva que não pára, um frio perturbador, e uma vontade de permanecer horas na mesa do Beirute, bebendo cerveja, comendo quibe frito e jogando papo fora com os conhecidos. Agora que colaboro com uma rádio, não raro chamo El Brujo para tomar uma no bar, que fica ao lado, e comentar certas debilidades do passado. Não chegamos a conclusão alguma, e continuamos reclamando das mesmas pessoas, quando não de nós mesmos ou da tal da vida.
O garçom chega com mais uma cerveja e dois quibes. A chuva não dá moleza. E ainda tenho um monte de coisas para serem resolvidas. Mas é como diz a boa e velha máxima: "no retreat, no surrender"...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Diálogo com Estranhos...

Fui ao Beirute da Asa Norte para tomar uma cerveja com El Brujo. Lá pelas tantas, com os neurônios a nadar em uma piscina etílica, começo a conversar com uma mulher mais jovem. Jornalista como eu. Falamos de literatura, de cinema, de pessoas que não gostam de Brasília. E eis que ela solta a primeira bomba (na forma de uma pergunta, e não de um pum, caro leitor):
“Como é SER divorciado???”
A princípio, fiquei com aquela cara de debilitado mental, olhando para os lados para ter certeza de que não estava escutando vozes de um Além de bêbados.
“Como é o quê?...”
“É. Como é SER divorciado? Você sente falta de algo? Você tem uma rotina nova? Como é?”
“Não, não. Tá tudo normal. Normal mesmo...”
“Cadê a tua aliança???”
Dear Lord...
Tirei meu colar de penduricalhos e mostrei a aliança que dele pendia. A mulher não acreditou.
“Você ainda guarda isso?...”
“Qual o problema”, perguntei.
“Muito estranho, muito estranho. Isso não traz maus fluidos, não?”
“Isso depende se você vai estar na minha cama pela manhã...”
Isso era uma piada. Mas ela não riu, prova de que não entendeu picas (isto, aliás, também foi uma piada, caro leitor...).

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A tal amizade nessas horas...

Não que eu tenha passado a informação pela rede de computadores ou feito das tripas coração para que um pequeno texto explicativo fosse publicado no Diário Oficial. Poucos souberam da separação e do divórcio. Alguns já vinham observando a situação (de perto ou de longe); outros souberam por mim ou pela ex. Mas o fato é que a maioria dos nossos conhecidos só soube meses depois. Convenhamos: não é algo que você anuncia da mesma maneira que o faz quando alguém nasce ou veste o paletó de madeira. E mais: alguns pouco ligariam pra isso.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Acabou em pizza...

Oficializamos o divórcio em um cartório da Asa Sul. Estavam presentes as partes interessadas, as testemunhas, a advogada e os demais oficiais de justiça. O escrevente tinha um nome estranho. A operação custou 60 mangos – com direito a piadinha do responsável pelo caixa do cartório. Também fizeram piadinhas – que, estas sim, surtiram mais efeito – o escrevente (que, aliás, era a cara do vilão do novo filme do 007...) e a advogada. A papelada só tinha um longo páragrafo, com palavras que nem eu utilizaria em meus textos.
Piadinha vai, piadinha vem, e tivemos de marcar um novo encontro no cartório para assinar tudo novamente; isso porque, segundo o tal vilão do 007, um livro de registro de cartório só pode ter, no máximo, 200 páginas, e a nossa papelada continha as páginas 201 e 202. São os tais grandes perfumes nos tais pequenos frascos. Em outras palavras, menos fashion, pequenos detalhes que criam grandes merdas e enormes dores de cabeça.
O fato é o seguinte: sou oficialmente mais um divorciado em Hardcore Brasília.
À noite, já no apartamento, que ainda dividimos, comemoramos o fim da papelada com uma deliciosa pizza metade vegetariana, metade calabresa. Eu paguei.

Operação Vácuo do Divórcio

Eu estava na casa do Bruxo, comendo um sanduíche de salaminho e bebendo Mate Leão, quando adentramos, ao som de Judas Priest, um terreno jamais explorado por nossas mentes no que concerne ao divórcio. O fato é que não raro eu me sinto catapultado para uma dimensão monótona, sem barulho, movimento ou sensação de perigo. Nada acontece e a imobilidade me parece normal. Nada me vem à mente quando penso no futuro. Tento viver um dia de cada vez, evitando planos e fomentando sonhos. Às vezes é um saco; às vezes é apenas uma sucessão de pensamentos que não fazem muito sentido. Dane-se: isso tudo deve fazer sentido em algum momento.
Comi mais um sanduíche. Depois descemos e fomos beber uma cerveja no boteco.

Meus Quatro Dias Sozinho

A ex viajou. Foi pra São Paulo a trabalho, com direito a hospedagem no Hilton. De minha parte, ainda estava saindo de um quadro de febre e sinusite, mas já apresentava sinais de calmaria, a ponto de sair todo dia para resolver algum assunto. Assisti a filmes, desenhei, escutei música, baixei muita porcaria da internet, saí para beber no sábado em bares freqüentados por hippies e pagodeiros, falei muita besteira (isso não muda tão rápido assim depois de um divórcio), comi no Sky’s, escrevi, arrumei a casa, lavei a louça.
No domingo, após mais um temporal, saí em direção ao aeroporto para buscar a ex. O lugar estava apinhado, eu estava cansado. Comprei uma Coca-Cola e fiquei observando os casos bizarros da normalidade social: velhos com pigarro, crianças obesas, peruas de plástico com seus Blackberries bling-bling. Um circo a cada cinco metros.
O avião chegou no horário. A ex estava cansada. Eu ainda estava cansado. Durante o trajeto de volta, ela falou e eu permaneci calado, emitindo um grunhido aqui e ali.
E assim acabaram meus quatro dias de solidão.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Apaixonado pela Fabíula Nascimento

Ano vem, ano vai, e mulheres não param de serem eleitas musas do verão ou algo que o valha. Com Fabíula Nascimento é diferente. A atriz é a versão feminina do Robert de Niro, no melhor dos sentidos, é claro. Tanto faz se está gorda ou magra em filmes e peças de teatro. O tesão é o mesmo e não vai embora. Um dia, perguntei para El Brujo o que ele achava da atriz, e ele respondeu que achava ela bem gostosa. “Deve ser simpática”, completou. Isso é raro em se tratando de El Brujo. Geralmente, ele tem uma desconfiança natural do meio artístico. Acha que qualquer ator ou atriz que faz sucesso acaba indo trabalhar para uma grande emissora de televisão, vende a alma por um apartamento na Barra da Tijuca e alguns vales-sushi e pronto, começa a atuar em péssimas produções. No final, ainda segundo El Brujo, viram “papagaios”, que só repetem o que o contrato lhes permite.
Não sei se concordo plenamente com meu confidente. Ainda tenho esperanças quanto à Fabíula Nascimento...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Interrogatório Tropical

Mais uma vez, estava em Pitboyland, tentando fugir do calor e das perguntas da família. Liguei para El Brujo para saber como estavam as coisas em Hardcore Brasília, e ele me disse que ia ter um show de uma banda cover do AC/DC. Essa eu perderia pois não chegaria a tempo.
Enquanto isso, na metrópole litorânea, o ciclo de perguntas acerca do divórcio continuavam. Alguns não entendiam; outros tentavam listar razões e filosofias de porta de botequim. O jeito era beber e pensar em uma maneira de me desvencilhar de tudo aquilo sem entregar os pontos. Menos de 48 horas após minha chegada a Pitboyland, já estava na frente de uma tulipa de chopp, na companhia de amigos, falando mal de todos e anunciando meu voto nulo no segundo turno das eleições para prefeito – e isso apesar d encheção de saco de minha santa mãe, eleitora do Gabeira.

Divorciados que curtem Darwin

Quais são as prioridades de um recém-divorciado? Curar as mágoas e tristezas na base do chopp com os verdadeiros amigos ou na base da pizza em casa? Colocar tudo no papel ou em algum blog? Listar os erros cometidos no casamento que não deu certo? Procurar um emprego, uma namorada e pratos novos para a bateria? Se esconder de todos e não responder aos já raros emails dos chamados “amigos de longa data”? criar, criar e criar? Comprar logo a nova agenda Taschen 2009 na Livraria da Travessa? Não sei exatamente. Já está sendo difícil pensar direito (o que, no meu caso, não é nada raro), quanto mais escolher o caminho ideal para esta nova fase.
Liguei para El Brujo e expus os dilemas. Ele me mandou à merda, disse que estava assistindo a um filme do Steve MacQueen, e desligou na minha cara.
Tem sortudo neste mundo que realmente não tem dilemas.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Uncle Sukita Strikes Again!!!

Este ano, não comemorei meus 35 invernos com alarde. Não tinha clima para isso. Até saí com algumas pessoas, tomei umas cervejas e comi uns pedaços de bolo. Ganhei alguns presentes (inclusive da ex, que me deu – pasmem – um som para o meu carro...). E, mesmo assim, não teve clima para fazer festinha alegre. É fato que tomei todas no Beirute da Asa Norte. Só voltei pra casa às quatro da matina. Que se dane. Não quis mesmo fazer uma grande comemoração. Muitos nem ligaram para desejar os tais “muitos anos de vida”.
Ano que vem comemoro com um pouco mais de alegria. Assim mesmo, obrigado a todos que compareceram, que ligaram ou que enviaram mensagens.

Meu único amigo, El Brujo

Meu principal confidente para assuntos de divórcio e afins é um cara cujo apelido gera uma certa confusão: El Brujo. Talvez o leitor não saiba, mas estas terras tupiniquins estão apinhadas de “bruxos”. El Brujo, porém, não é nada famoso. Pelo menos não fora de Hardcore Brasília. Sua vida é cercada de mistérios e muitos acham que ele não passa de um débil mental, vagabundo, filhinho-de-papai. Antes mesmo de conhecê-lo em pessoa, ouvi duas anedotas acerca da figura.
A primeira relata que El Brujo estava em uma palestra de um certo “mago” que vendera milhões de livros e que, lá pelas tantas, em meio aos devaneios do dito mago, El Brujo levanta, interrompe o palestrante e solta, em alto e bom som, um “Porra, mas você só fala merda, hein?”; no que todos caíram na gargalhada. El Brujo, é claro, foi expulso por seguranças e processado por desordem. A segunda anedota é contada pelo mendigo bêbado da esquina da rua habitada por El Brujo. Esse bêbado às vezes dá a impressão de estar envolto em alguma aura hi-tech à la Matrix, com traços reluzentes saindo de seu corpo para maiores explicações e futuros estudos. Segundo o mendigo, El Brujo ainda nem havia deixado o Céu, quando Deus resolveu mandá-lo para a Terra como uma mensagem divina. Segundos depois de empurrá-lo em direção ao Planeta Azul, Deus foi perguntado por algum arcanjo se Ele não havia trocado as bolas e enviado o “pacote errado” ao invés do verdadeiro Salvador. Há males que vêm para bem...
El Brujo também costuma conversar com o cavalo do catador de papelão e com o buldogue francês de seu vizinho que trabalha na Zara.
Quando cheguei na portaria do prédio onde residia El Brujo, percebi que ele estava terminando de escutar “One of the Living”, da Tina Turner, e começando a ouvir “Infatuation”, do Rod Stewart. Foi então que uma senhora gritou comigo:
“Ei, moçinho, você vai para o apartamento 302?”
Respondi que sim.
“Então diz praquele boçal de merda abaixar esse som!!! Do contrário, chamo a polícia!!!”
Adentrei a portaria, subi os três lances de escada e bati na porta com certa força.
El Brujo abriu a porta. Vestia uma calça social cinza escura, uma camiseta regata branca e meias pretas. Saudou-me como de praxe:
“E aí, viadinho? Acordou cedo, foi? Quer um café?”
“Pode ser, valeu...”, respondi.
Eis o que El Brujo possui de mais insólito em seu apartamento de quarto e sala: agendas (muitas delas) repletas de recortes, anotações, comentários, fotos, desenhos, recortes e demais pedaços de papéis herméticos; uma espingarda de cano duplo que não funciona (mas que impõe certo respeito), herança de um avô que nasceu, viveu e morreu na França; um pôster do John Cleese interpretando o cozinheiro Mungo (somente para finos conhecedores...); postais com desenhos de Moebius colados na porta da geladeira com fita adesiva; três máscaras africanas decorando a parede na qual se encontra a televisão e os demais aparelhos de áudio e vídeo; vários engradados contendo seus LPs, CDs e DVDs; uma foto autografada e emoldurada do Tom Waits; outra foto autografada de um jogador desconhecido do Spartak de Moscou; estantes abarrotadas de livros (isso É insólito em um país como este...); um freezer quebrado e repleto de histórias em quadrinhos estrangeiras, devidamente embaladas e identificadas; um adesivo do Reino da Dinamarca colado na porta da geladeira que funciona (em caso de alimentos podres...); três tijolos usados como cinzeiros; caixas e mais caixas de arquivos (com recortes, artigos diversos e revistas antigas); um samovar original; entre outros objetos.
Eu entrei ao som de Rod “Coveiro” Stewart, segui El Brujo até a cozinha e sentei em uma das cadeiras que o anfitrião “pegara emprestado” de bares e botecos ao longo dos anos. O cheiro de café era bom e impregnava o ambiente. El Brujo serviu duas generosas xícaras e sorriu maliciosamente. Mais uma longa conversa seria iniciada.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Sobre o outro blog, mais ridículo e menos visitado...

Tenho outro blog, que comecei a escrever em setembro de 2004. Trata de assuntos variados, de situações insólitas, e principalmente de muita besteira. Os leitores – raros ou inexistentes – não deixam comentários, fato ao qual já me acostumei. Ainda assim, os momentos de rancor e mágoa afloram após alguns meses sem comentários. Resumindo: que se dane. Tenho mais o que fazer do que ouvir lamentações de gente que, durante anos, ficou enchendo o meu saco sobre as maravilhas da internet e que, quando finalmente concebo algo na tal rede, não deu e continua não dando a mínima para o que eu faço.
Eu gosto de escrever e isso independe da opinião dos outros.

Inocência

Enquanto escrevo isto tudo, algumas crianças lá embaixo, reunidas no parquinho, dão seus primeiros passos na direção do flerte. De um lado, sentados em um banco, cinco garotos falam e gritam sobre debilidades exibidas na TV. Do outro, passeando seus respectivos cães, três meninas cochicham algo. Um dos meninos liga seu celular e compartilha uma música funk de letras que beiram o pornô. Talvez seja exibicionismo. As meninas continuam cochichando. No que diabos os dois grupos estão pensando? Em amor? Em algo semelhante a sexo? Não é tão fácil assim, amiguinhos.
É um jogo cuja regra principal foi escrita por the one and only Lemmy Kilmister, segundo o qual “the chase is better than the catch...”.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

À mesa da Discórdia com Kafka

Foi durante mais um lanche noturno na temakeria com a ex. Estávamos falando sobre os móveis que venderíamos. Aí eu disse que a empregada não teria mais onde apoiar o prato do almoço, e aventei a possibilidade de comprar uma dessas mesas de botequim. Foi então que a bomba explodiu na minha cara; justo quando abocanhava o cone de salmão. “EUNÃOQUEROOUVIRNEMMAISUMAPALAVRASOBRECOMPRADEMÓVEIS!!!!!”. Não foi propriamente um grito mas ela estava bastante nervosa. Me perguntou porque eu sempre tinha que defender a empregada. Ameaçou embargar toda a operação de venda dos móveis, e mandar tudo para a mais reles das putas que parem. Realmente estava transtornada, me acusando de não mover um músculo sequer para procurar o advogado ou para anunciar a venda dos tais móveis. Segundo ela, eu nem conseguia mandar consertar o som da sala em menos de duas semanas. Fui tachado de preguiçoso e coisa e tal enquanto caminhávamos de volta pra casa. “Quem tem boca vai a Roma...”, dizia.
No dia seguinte, cedo, por volta das 7 da matina, ela levanta e vai até a cozinha. Eu fico na cama, mas não demora muito para que eu escute um grito de fazer Ingrid Pitt chorar de inveja. Pulo da cama tal Errol Flynn de cuecas, e corro até a cozinha. Descubro que, ao tentar regar a planta de estimação, a ex deu de cara com uma senhora barata que resolveu tomar posse do vaso no qual se encontrava a dita planta. A cascuda já estava no chão, esperando algo. A ex estava havia alguns metros, tremendo feito vara verde e implorando para que eu matasse a diaba marrom. Assim o fiz, por meio de uma chinelada de Havaianas digna de Shaolin de subúrbio. Até senti pena, pois acho que a tal barata já estava velha, mal se mexia para fugir e talvez tenha se assustado com a visão daquele gigante trajando camisola pink.
Moral da história: como qualquer pessoa, a ex tem seus momentos de mal-agradecida; eu sou rápido no gatilho de borracha (mas nem sempre); e Kafka não sobreviveria uma hora sequer neste apartamento.

Valendo Um Milhão...

Ela estava saindo para a sua caminhada matinal quando, pouco antes de adentrar o elevador, perguntou calmamente: “e aí? Você não vai arranjar uma namorada?”...
Catapimba.
Essa teve o impacto de uma Claymore posicionada sob os meus sacrossantos colhões. O fato é que não tive resposta. Permaneci calado, olhando para o vazio enquanto ela desaparecia na jaula metálica móvel fabricada pela Otis. Poderia ter respondido que aquele assunto não lhe dizia mais respeito, ou que simplesmente não estava pensando nisso por uma questão de prioridade (i.e. oficializar o divórcio, morar sozinho, e arrumar minha “nova vida”...). Mas não: fiquei com cara de debilitado mental olhando para o chão por uns cinco segundos antes de fechar a porta e voltar ao quarto para tomar meu café e escutar o noticiário.
Certas perguntas de pegam de surpresa, sem dó, feito tubarão branco saindo de algum regime.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Quando meus neurônios são reféns de Philip Stark...

Para acalmar os ânimos, nada melhor que uma explosão de futilidades neste apartamento. Vou mudar a decoração da porta da geladeira: adeus imãs-souvenirs de Buenos Aires e bonecas decorativas. Vou tascar a foto do Yoda, a foto do Marlon Brando, o adesivo do D.F.C., um desenho do Morto Fumante (de minha autoria, obrigado...), e demais recortes interessantes e insólitos. Alguns dirão que ficou ridículo, que a geladeira foi transformada em porta-penduricalho, que eu, mais uma vez, estou perdido. Talvez, mas agora só tenho que dar satisfações “artísticas” para meus mecenas e para mim mesmo. E já vou avisando: a decoração dos quartos, do banheiro social e da sala de estar também vai mudar. Frente ao silencioso turbilhão de um divórcio, Revolução Cultural chinesa perde feio.

Final de Semana: um espécime em extinção

No sábado, levanto cedo e vou fazer compras no Pão-de-Açucar. A ex vai ao Ceasa comprar brócolis, manga, aspargos, couve-flor, alface e alcachofra. Quando não tem almoço nos ex-sogros (dos quais não participo há algumas semanas), almoçamos juntos em casa. Ela cozinha, eu abro a cerveja e o pacote de Ruffles. Lá fora, os cães ladram afoitos sob um sol de 33 graus e uma umidade de 18%. Após o almoço, ela sai e eu faço minhas coisas (i.e. textos, arrumações, broncas). À noite, ela sai com as amigas e eu, se bobear, saio com alguém que não tem nada a fazer e que quer tomar cerveja ou falar de música. Ou então assisto a algum filme de terror dos bons na companhia de um sanduíche entope-artéria e um suco de maracujá.
No domingo, ela sai para caminhar e correr. Eu fico em casa e escrevo. Almoçamos fora ou pedimos algo. Vemos “Betty, a Feia” ou “Samantha Who”. Ela vai tirar um cochilo. Eu volto pros textos e pra papelada. A família telefona. Minha barriga dói pois comi muito. Ela sai com as amigas: cinema, cafezinho, papo de mulher. Eu fico escutando música, tomando Schweppes (o amarelo, com quinino) e desenhando. A noite cai sobre Hardcore Brasília e eu fico com a sensação de que aproveitei mal meu final de semana, mesmo se esses dois dias não diferem muito dos outros cinco.
Final de semana é um bicho exótico.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Um pé na bunda cadavérica de Gustav Klimt

A ex adora Gustav Klimt. Especialmente um quadro intitulado “O Beijo”, executado entre os anos de 1907 e 1908, e cujos modelos foram ninguém menos que o próprio Klimt e uma de suas amantes. De minha parte, acho que o quadro em questão não figura entre os melhores do pintor. Mas isso não interessa. O que interessa é que lá em casa existem uns quatro ou cinco livros sobre a obra de Klimt, além de uma reprodução devidamente emoldurada – do tal do “beijo” – que decorava a cama de casal. Isso tudo vai se mandar daqui de casa. Sai Klimt e entra Moebius. Sai Klimt e entram os cartazes do AC/DC, do Monty Python e do Karl Blossfeldt. Se bobear, coloco o cartaz original da guerra nipo-russa de 1905. Raridade, ainda mais em se tratando de um cartaz cuja notícia – uma bela peça de propaganda – é a derrota da marinha japonesa frente aos encouraçados czaristas (foi exatamente o contrário...). Não deixaria de ser simbólico.

Meu Reino por um Cinzeiro

Minha ex deu a péssima notícia de que o advogado que cuidaria dos papéis do nosso divórcio cobraria 3000 reais para fazê-lo. Com 3000 reais, eu contrato cem imigrantes paraguaios para transformar o dito advogado em jantar ao som de Danko Jones e Chicago. Fico sem divórcio, mas pelo menos dou umas risadas. Isso me faz lembrar daquela piada de como você faz com que 100 advogados caibam em um cinzeiro. Deixa pra lá. Essa burocracia bem que podia dar uma trégua. Para casar, você paga menos de 100 paus, mas para divorciar você paga os olhos da cara (se bobear, mais que isso...). Devia ter algum sistema eletrônico que possibilitasse a oficialização do divórcio com apenas um toque de botão, ou algum disque-divórcio, algo assim.
Dias depois, minha ex anunciou a boa nova. Ela encontrou uma advogada que cuidaria da papelada por 1000 mangos. Aí dá pra negociar. Vamos até pagar em duas vezes, sem juros.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Ações e Reações

Contar sobre o nosso divórcio para os meus pais foi uma novela. Demorei um pouco. Minha ex-esposa já tinha contado para os dela semanas antes, por meio de sua irmão mais velha (que, aliás, é minha dentista). No final, deu tudo certo; eles entenderam, e minha mãe veio com aquele papo de “coração de mãe não se engana...”. Aliás, minha mãe soube da novidade assim que chegou do cinema, onde assistiu ao filme “Mamma Mia” (que recomenda fortemente...). Meu pai, que estava de passagem por Brasília, conversou sobre o assunto indiretamente, sem estresse algum, enquanto comíamos no Fritz e no Carpe Diem. Meu irmão nem tocou no assunto, e tratou de saber se eu voltaria a desenhar minhas histórias em quadrinhos.
Já meus sogros receberam a notícia com estranheza. Segundo minha ex, meu ex-sogro não quer falar comigo por enquanto. No final de semana em que se comemorava seu aniversário, não fui à churrascaria partilhar da alegria oriunda da comemoração. Assim como não fui lanchar na casa dos ex-sogros como fazia de vez em quando. A viagem em família para Gramado, no final do ano, também vai ser realizada sem a minha presença.
Faz parte.

Tinta como alimento para um divorciado

Estou voltando a desenhar a todo vapor. Em um mês, terminei um caderno de esboços e comecei outro. Criei três personagens e já estou pensando em seguir os passos do Allan Sieber ou do André Dahmer, e publicar umas tirinhas em alguma página virtual.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Blackie...My drug of choice...



Badababadabadabadababadada....

Eu e minha ex fomos almoçar juntos numa temakeria que abriu aqui na 109 Norte. Koni Shop ou algo assim. Não é ruim, mas faz parte desse modismo do temaki que se espalhou pelas grandes capitais tupiniquins e, não demora muito, vai abrir uma filial em plena floresta amazônica. Temaki de rã. Temaki de Surucucu. Para a minha surpresa, o lugar é decente, e isso apesar dos cardápios serem placas de acrílico rosa-shock. Adorei a maionese de ovas que acompanha o temaki de camarão empanado.

And Now, Sports...

O placar do jogo entre Recém-Divorciados e Recém-Casados permanece no 3 a 2. Por enquanto, o primeiro time conta comigo (como representante da categoria em Hardcore Brasília), com o Pierre (São Paulo) e com o Griego (Rio-Pitboyland). Já no time do casório (relâmpago ou não), temos meu advogado (que vai se casar na bombástica Índia) e o Dan (no Rio).

Sem Segredinhos

Minha ex conhece este blog. Ela me viu escrevendo os primeiros textos numa tarde de sábado, no dia em que inaugurei a página na rede. Tudo bem que eu esperava fazer deste blog algo discreto. Mas acho que minha idéia foi para o mais estranho dos brejos. Aposto a maioria dos meus LPs como em menos de uma semana, já vou ler os mais díspares comentários. Tudo bem. Faz parte do jogo.

domingo, 21 de setembro de 2008

Nada é tão fácil quanto parece

Em meio às notas postadas, surgem as mesmas peculiaridades quanto à construção do blog. A mesma dor de cabeça; e o mesmo prazer em conseguir o efeito desejado. E agora, de volta à diversão...

sábado, 20 de setembro de 2008

Sonzinho na Penumbra

Escutei algumas músicas interessantes que parecem ter sido especialmente criadas para a pseudo-depressão que assola certos recém-divorciados. Tem “Long Time” e “I hate myself for lovin’ you”, ambas da Joan Jett. Tem “Middle of the Road”, dos Pretenders. “I’m the Man”, do Joe Jackson. Muita coisa dos anos 1980. Faz bem par mente. Apesar do prazer em escutar tais clássicos, a impressão é de que o tempo está passando de maneira irregular, alternando uma rapidez em momentos de problemas a serem resolvidos, e uma lentidão atroz assim que cai a noite.

The Dick is on the Table...

É em meio à choradeira de uma criança desconhecida da 109 Norte que inicio estas notas. Ia começar dizendo que sou mais um divorciado dentre os milhares deste planeta, mas achei que os berros da tal criança – que, aparentemente, não quer ir ao médico – daria mais cor à coisa toda. Sabem como é: um pano de fundo.
Mas o fato não muda: sou um homem divorciado. Um dos milhares neste país. Nos separamos em setembro deste ano (2008) e os papéis do divórcio devem sair até o ano que vem. Além disso, ainda tem a papelada de anulação junto ao Vaticano, pois nos casamos em uma cerimônia religiosa. Isso foi em novembro de 2003. Mesmo divorciado, tem muito chão pela frente. Muita decisão, muita dor de cabeça e muita fúria. Uma guerra se arma à minha frente, e eu sequer conheço o inimigo.

Promoção

Chore um pouquinho mais por causa do seu divórcio e ganhe alguns dias de vida extra. Chore pelo fato de não ter alguém para encher o teu saco toda vez que você deixa de fazer algo que prometeu. Chore por todas as refeições de final de semana que não serão servidas por uma mulher. Chore por ninguém entrar em casa à noite, anunciando que está cansada e que quer um misto-quente no capricho e algumas horas de televisão. Chore pelos itens que desaparecerão de sua lista de compras aos sábados (i.e. chocolate Ouro Branco, suco de manga, suco de uva, condicionador da Phytoervas, queijo Brie, pão-de-queijo congelado, etc.). Chore por não ter com quem conversar nos finais de semana, que, aliás, você vai ter de “reconstruir”. Chore para não chorar por coisas absurdas, tais como a conta do celular que não veio no dia certo ou o iogurte do supermercado que veio aberto. Derrame um oceano de lágrimas por ter de recomeçar algo que nunca será igual.