sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Desgraça Passageira

Estava a caminho do Rio Sul no balanço violento de um 583 da vida, olhando para os tipos de Ipanema e Copacabana, e tentando descobrir qual a razão de tudo aquilo – se é que havia razão em Pitboyland.
O ônibus parara no ponto em frente à papelaria Cruz, na Nossa Senhora. Pela janela, percebi que havia uma pequena confusão na calçada. Um pequeno grupo de transeuntes se aglomerava ao redor da entrada de uma agência bancária. Aparentemente, uma senhora idosa caíra e, devido ao seu próprio excesso de peso, tivera dificuldade em se levantar da calçada. Logo, dois ou três pessoas lhe prestaram socorro e ela pôde, a duras penas, retomar sua posição relativamente erétil.
O elemento que chamara minha atenção estava, entretanto, acomodado ao lado da porta da agência. Sob um grosso e largo pedaço de cartolina, jazia, nos braços de um Morfeu mais democrático, um morador de rua, que pouco se abalara com o burburinho provocado pela queda da obesa senhora. Sequer levantou seu cobertor em celulose para verificar que bagunça era aquela que ousava perturbar seu sacrossanto e diurno sono. Sequer pôs o rosto para fora e soltou meia-dúzia de palavrões. Educado; mais, talvez, que aqueles que demoraram no auxílio à idosa.
E assim foi.
Vinte segundos se passaram, e o 583 seguiu sua rota.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Carta Aberta ao meu Anjo da Guarda

Caro e Alado Senhor,
Venho, por meio desta, expressar minha surpresa ante uma série de questionamentos ocorridos esta semana, por ocasião de mais uma rodada de cervejas com conhecidos no Beirute da Asa Norte. O fato é que começamos a falar sobre a questão de um anjo da guarda em nossa vidas; e isso independentemente de alguns serem religiosos e outros, ateus convictos. Quando chegou a minha vez de dar minha humilde opinião, a coisa toda foi para o mais absurdo dos beleléus.
Afirmei acreditar, por muito tempo, que meu anjo da guarda era um tal de Uriel (ou Zuriel, dependendo da fonte...). Este último, cujo nome significa "Fogo de Deus", tem bom currículo: querubim, Regente do Sol, Chama de Deus, anjo da presença, responsável por Tartarus (Hades, o Inferno; algo como um carcereiro-mor, responsável pelo aprisionamento dos demônios,dos anjos caídos e afins...), arcanjo da salvação, o mais importante dos anjos no Dia do Julgamento, regente do mês de setembro, anjo que comanda o trovão e o terror; dizem que ajudou a enterrar Adão e Abel no Paraíso, e que foi o anjo que entregou a Noé a mensagem dando conta do Dilúvio próximo. Foi reprovado no Concílio de Roma em 745, mas agora é Santo Uriel, cujo símbolo é uma mão aberta segurando uma chama.
Nada mau, penso eu, para um anjo da guarda.
Mas aí, semanas atrás, recebi um desses emails que me davam a oportunidade de conhecer quem era meu anjo da guarda. Fiz o teste, meio desconfiado das perguntas, e surpreso fiquei quando o resultado deu um anjo de nome Kamael (ou Camael, ou Camiel, ou Kemuel, ou Camniel, ou Cancel, ainda dependendo das fontes...). E olha que esse também não é de se ignorar.
"Aquele que vê Deus" (este é o significado do nome), Kamael é chefe da Ordem dos Poderes e um dos sefiroth. Oriundo das regiões ínferas e possuidor do título de Conde Palatino (ou do Palatinado...), Kamael, quando invocado, surge na forma de um leopardo no topo de um rochedo. Ele personifica a justiça divina, é senhor do planeta Marte e, segundo a mitologia dos Druidas, é Deus da Guerra. Para alguns, é o anjo que lutou com Jacó, para outros, identificado como Gabriel, o anjo que apareceu ante Jesus para Lhe dar força durante Sua agonia no Jardim de Gethsemane.
Importante, não?
De qualquer forma, só tenho a agradecer ao meu anjo da guarda por eu ainda respirar e não ter batido as botas em algum acidente de trânsito, ou por causa de bala perdida, ou até em razão de algum acidente doméstico. As oportunidades, o senhor sabe bem, não faltaram. Só por isso, repito, lhe sou infinitamente grato. Espero, ademais, que tal relação dure por anos a fio.
Atenciosamente,
K.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Asfalto Noturno (algo curto e grosso para os entendidos...)

O taxista tinha um bafo podre e o interior do veículo – seus bancos, seu cinzeiro, seu rádio, seu porta-luvas, seu tudo – exalava um fedor de maconha a ponto de eu me perguntar se minha sorte estava REALMENTE mudando assim que os primeiros e inconfundíveis acordes de "You’re The Inspiration", do Chicago, invadiram o tenebroso ambiente móvel.
Se chegasse em casa inteiro, me daria por satisfeito.

Teresópolis was a No Go...

Fui pego de surpresa. Uma proposta de fim de semana em Teresópolis. Casais de amigos, música, comida, bebida e boa conversa; ou pelo menos essa era a proposta. Respondi que iria pensar. Fui à PUC, peguei um trânsito infernal e, quando voltei pra casa, respondi que não iria, dando a velha desculpa do "valeu, mas acho que vou ficar por aqui...". Certamente não foi a melhor das desculpas. Mas convenhamos: não iria segurar três velas no topo de uma montanha. Não iria ouvir conselhos entre uma e outra piada. Não iria fazer os mesmos planos afoitos e entusiasmados de reencontros, reuniões, viagens e festas de réveillon.
Preferi ficar em Pitboyland, continuar minhas "coisas", dar uma passada no Empório e assistir a filmes antigos. E assim foi, meus amiguinhos. No fim de semana em questão, resolvi assuntos pendentes, me embebedei no mais famoso bar da rua Maria Quitéria e quase queimei minhas retinas ao longo de um festival de clássicos estrelados por Bogart, Bacall, Veidt, Tracy e Astaire.
Os prazeres de Teresópolis ficariam para depois.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

En Passant...

Por uma dessas artimanhas do Destino, possuo dois discos da banda inglesa Transvision Vamp. A vocalista do Transvision Vamp – uma louraça belzebú made in Albion – me faz lembrar de uma garota que conheci melhor no alvorecer do Novo Milênio; irmã de uma outra garota que conheci "bem melhor" no fim do milênio anterior. Ambas brunettes. A primeira garota em questão era chata, mimada, tinha uma voz irritante, trejeitos irritantes, e uma propensão – perigosa, senão letal – para bebida, drogas e sexo inconseqüente. A segunda era mais esperta, mas queria romance e tal. Perdi contatos com as duas, mas não perdi os discos do Transvision Vamp.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Ladras, porém jeitosinhas...

Era um golpe envolvendo o seguro das coisas roubadas que não foram roubadas. Aconteceu em Ipanema e as rés eram duas jovens advogadas made in Camelot. Rebecca e Shanti (sic). Brunette e loira, respectivamente. Foram pegas no flagra, mentindo, graças ao savoir-faire tupiniquim da 14a D.P. (Leblon City). Tiveram seus passaportes confiscados, passaram uma curta temporada na prisão de muchachas (infelizmente, em nada parecida com aquele filme que o SBT exibia na madrugada do sábado para domingo...Suculento, admito) e receberam uma sentença (ou algo que o valha). Nessa novela toda, nada de choro ou de drama shakespeariano. Ambas passaram por tudo com aqueles olhos esbugalhados e aquele ar de "não-sei-oque-está-aconteendo-nessa-Ilha-da-Fantasia", típicos de turistas do hemisfério Norte.
No meio de uma noite regada a White Horse e Original (sim, aqui tem...), liguei para El Brujo pra saber se ele tinha ouvido falar na história policial.
"Pois é. Eu vi na televisão, mas queria ter visto no programa do Alborghetti..."
"Com certeza", disse eu. "Ou então no saudoso Aqui e Agora, com o Gil Gomes entrevistando em inglês..."
"Heeere....and Now."
"Mas como é que essas débeis mentais pensam em fazer isso aqui, né? Logo na terra do Doutorado em Golpe, porra. Tinham mesmo que se dar mal..."
"É. Acham que podem enganar qualquer um. E nem se deram ao trabalho de colocar os pertences em outro quarto, ou algo assim."
"Não passam de ladras..."
"...porém ladras jeitosinhas, diga-se de passagem..."
"Concordo."

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Tempo Morto

Ainda chuviscava quando adentrei minha antiga faculdade de Jornalismo, às margens da Lagoa. Nenhum rosto conhecido, apenas mais uma leva de jovens sonhando com um futuro brilhante e a praia do final-de-semana. Na sala de atendimento e informações, um casal de alunos fazia algum tipo de serviço pro-bono, respondendo, sem muito entusiasmo, às perguntas mais freqüentes.
Após um ou dois minutos de espera, fui atendido pelo rapaz que se parecia com uma mistura de renegado emo e travesti surrado. Perguntei se a faculdade oferecia algum tipo de mestrado em Comunicação Social. Entre uma e outra cutucada no nariz, o sujeito respondeu que a faculdade não oferecia Mestrado, apenas um MBA. Em seguida, leu o texto exibido pela página do site da faculdade. Enquanto escutava o enfadonho recital, eu olhava para baixo, tentando conter o sono e pensando no que poderia fazer no caminho de volta pra casa. Findo o lenga-lenga do emo, agradeci as informações, desejei bom-dia e me pirulitei chuva afora.
Subi a rua interna em direção à Visconde de Pirajá, andei até o Bar 20 e pedi um suco grande de manga.
Tinha a impressão de estar em algum vácuo, sem saber o que fazer e incapaz de tomar uma decisão lógica. Um turbilhão de informações, imagens, sons e sensações rodava em meu cérebro tal qual pirulito de porta de barbeiro em filme de mafioso. Nenhum movimento de minha parte. Nenhum próximo passo. Sozinho com um copo de suco de manga na mão, eu me sentia o perfeito inútil; o pária que não conseguia alcançar as expectativas alheias. O renegado que sempre atraía alternados olhares de suspeita, desconfiança e desprezo.
Cinco mangos pelo suco – mais a caixinha, obrigado – e eu comecei a andar feito um zumbi. De volta para casa, atravessando o canal do Jardim de Alá Akbar, colocando a chave na abertura do portão cinza, cruzando a portaria, entrando no elevador, entrando em casa, caindo na cama, fechando os olhos e desejando que aquilo parasse por mais algum tempo.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Finais Iniciados

Passei pela Travessa para comprar "The Proud Highway" do Hunter S. Thompson que havia encontrado no dia anterior e que estava em promoção. Acabei descobrindo que um colega meu de faculdade trabalha na livraria. Jornalista que é vendedor durante a baixa temporada e animador de campos de férias e cruzeiros mundo afora. Prova número UM.
Almocei uns pastéis e uma truta vegetariana no Degrau. Na mesa ao lado, um grupo de cinco senhores conversava em voz alta sobre o passado, demonstrando, por A mais B, que esse mesmo passado era melhor e tal. Prova número DOIS.
Tem dia em que eu realmente não quero chegar a nenhum dos dois casos acima citados. Eu adoro escrever e não tenho essa veia de vendedor alegre e descontraído, que acha que o cliente tem sempre razão. E eu não quero comemorar meus 50 ou 60 invernos relembrando o passado como algo amargo demais para ser exposto na mesma vitrine do presente. E porque diabos eu divago sobre esses dois meros exemplos? Nem eu sei ao certo. Acho que é sinal de velhice precoce, ou incerteza quanto às minhas assaz desprezadas funções de jornalista. sinal da readaptação.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Palavras de uma brisa morna na boca de uma mente fria

Desliguei a televisão às nove da noite, me servi de vinho e coloquei a trilha sonora do "Apocalypse Now" no som do quarto.
O rádio fica ligado a maior parte do dia, seja na emissora de notícias, seja na de música clássica. Outro dia, escutei uma hora de um compositor italiano (Luciano Berrio, talvez seja isso...) que me fez lembrar da trilha sonora do "2001" do Kubrick. Se bobear, era o mesmo cara.
Às vezes, esse tipo de momento me dá vontade de chorar. Mas aí eu penso mais uma vez, e concluo que não vai adiantar muita coisa. Não vai ser um desabafo válido; apenas uma água salgada saindo dos meus olhos, resultado de vários processos químicos cerebrais cujas explicações você encontra na Wikipedia.
É, a rádio realmente me salva. Pelo menos à noite.
O vinho também salva, mas com a rádio você não precisa escovar os dentes depois de escutar um Wagner, um Tchaikovsky, ou um Rossini.

Diálogo de dois alvos fáceis em uma das mesas do Empório

(Rua Maria Quitéria, Pitboyland – 20:30)
"Boa noite..."
"Boa noite. Você vê dois chopps pra gente, por favor?"
"É pra já..."
(sons de cigarros sendo acesos ao som do intenso tráfego e ao som de alguma música da Blondie...)
"Mas como eu dizia, eu acho que era uma indireta..."
"Pode ser apenas atua imaginação. Você quer que seja uma indireta..."
"Talvez..."
"Dois chopps..."
"Valeu..."
"Havia uma certa cautela nas frases."
"Isso também pode ser tua imaginação. Você criando todo um cenário e tal..."
"Porra, você realmente não tá ajudando muito, hein?"
"Só tô dizendo o que eu acho, só isso."
"Valeu, isso faz A diferença em uma cidade como esta..."
"Ainda se adaptando?"
"Readaptando."
"Existe um certo charme – um plano B dos divorciados – em não se adaptar completamente a uma cidade. Mesmo se você já conhece essa cidade como a palma da sua mão."
"Não é o meu caso..."
"Mas é fato que você não é muito fã de Pitboyland."
"Tem seus prós e seus contras, como qualquer outra cidade. Gente boa e gente ruim. Dias agradáveis e dias péssimos."
"Mas desde que você chegou, a tua cabeça tá meio desligada do contexto. Como se alguma ansiedade andasse contigo por onde quer que você vá."
"Uau! E você nem tomou metade do chopp, hein?"
"Pois é..."
"Minha cabeça às vezes tá em outro lugar, em assuntos agradáveis mas que foram deixados pela metade. Outro dia, vi um filme de ficção científica no qual o protagonista vende a alma para dar uma espiada em alguns minutos do futuro. É claro que a partir dali tudo fica diferente, cheio de ação e reviravolta. Mas é algo a se pensar."
"O futuro?"
"Apenas alguns minutos do futuro."
"Não vale a minha alma."
"Nem a minha, mas não é algo que você decide em um segundo."
"Com certeza."
"É o tipo de sacada precisa à qual você só tem direito raríssimas vezes ao longo de uma vida."
"Ok. Você certamente vai precisar de mais chopp. Mais dois chopps, por favor. Mas então: o que diabos você tem feito durante a semana?"
"O de sempre. Maratona de currículos, aluguel de filmes, chopp no Clipper, aposta na Mega-Sena e conversa com o vendedor de balas da esquina. Além dos textos, é claro."
"...E Empório nas noites de quarta..."
"Velhos hábitos não morrem tão fácil..."
"Ainda bem."
(Dez chopps – cada – mais tarde, ao som do "Howlin’ to the Moon" dos Ramones, os dois alvos fáceis saem do nobre estabelecimento e rastejam, tortos, pela Visconde de Pirajá em direção ao Leblon. Nem mesmo a mais astuta das agências de inteligência é capaz de saber o que acontecerá a seguir...)

sábado, 15 de agosto de 2009

Saudade Esquizóide (parte I)

Não sei se é algo passageiro. O fato é que, a princípio, existe um certo contrato invisível após o clímax; pequenos arranjos, discretos sorrisos e um acordo entre amigos que simpatizam um com o outro – uma amizade recente, de poucas horas, é verdade, mas algo sincero assim mesmo.
Pouco mais de um mês se passa, e surge uma dúvida diferente. Raiva de ter ficado sem graça. Raiva por não ter proferido as palavras certas. E preguiça por não ter tempo de largar o conforto da praticidade e da comodidade viciosa. Ok, nada de drama à la Doutor Zhivago. Até porque o início de toda essa história é tão emocionante – digno de um bom Hitchcock – que não ficaria surpreso se a trama revelasse mais um capítulo com dois protagonistas que sequer sabem o que os aguarda na próxima esquina.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Comunicação Interrompida

Só liguei uma semana depois. A história já estava enchendo o saco e queria tirar aquilo a limpo. Não houve preparação alguma, não respirei fundo, sequer pensei nas conseqüências. Apenas disquei os números e esperei alguém atender.
"Alô."
"Sim, boa tarde. Poderia falar com (nome), por favor?"
"Quem gostaria?"
"Um amigo..."
Ouvi uma conversa abafada ao longe, em seguida o barulho característico de quem pega o aparelho de telefone com movimentos bruscos.
"Alô."
"Oi, tudo bem?"
"Oi..."
E a conversa começou. Para minha surpresa, tudo não passou de um susto; uma daquelas fases em que a pessoa quer ficar sozinha, pensar na vida, listar os problemas e tentar achar alguma solução. Ela disse que ia me ligar. Claro. Elas sempre iam te ligar. Meia hora mais tarde, estávamos tomando chopp e caipirinha em um boteco barulhento da Asa Sul. mas foi só. No dia seguinte, mais desculpas. Teve de sair para tal lugar, para comprar tal coisa, esqueceu o celular em casa, foi uma correria. Já estou acostumado.
Não nos vimos mais. E não houve outro telefonema.

Uma Questão de Matizes (Parte 2: Great Balls ON Fire...)

Novo telefonema de El Brujo no meio da noite, entre um texto e outro.
"Cara, o Minotauro não adiantou. Acordei com a mesma ardência, e parece que agora a coisa toda cai mesmo, cara!"
"Minancora. Ok, ok. Acho que achei a solução. Tem um remédio chamado Dermodex Tratamento. É uma pomada. Parece que é tiro e queda..."
"Espero que não..."
"Você entendeu. Pode transformar tuas partes baixas em clone do Marcel Marceau novamente, mas aplica uma camada generosa. Em 24 horas, você vai estar curado. Parentes meus garantiram."
"Cacete! Mais uma pomada?! Já foi patético passar aquela outra gosma, agora você me vem com uma história de ‘camada generosa’?! Isso é tortura, cara!!"
"Não é tortura, é sacrifício por um objetivo maior. Dermodex. Mas vê se compra o genérico, ok?"
"Ok. Droga."
Uma hora mais tarde.
"Ainda bem que a farmácia aqui do lado é 24 horas."
"Agora passa isso e vai dormir."
"Isto daqui não arde?"
"Só por alguns segundos, depois deixa a coisa anestesiada."
"Pra sempre?..."
"Vai dormir, cara..."
"Ok. Valeu mais uma vez."
Algumas pessoas não sabem onde metem o pau. Outras não sabem o pau que tem. E ainda tem aquela pessoa que merece um pau por cada pecado cometido.
Para todas as outras, existe Visa.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Uma Questão de Matizes

Já passava da meia-noite em Pitboyland. Havia chovido um pouco, e ventado um pouco. Eu me preparava para tombar na cama quando recebi o telefonema de El Brujo, Sumo-Sacerdote do Rock em Hardcore Brasília. O homem estava desesperado.
“Cara, está tudo perdido! Acabou, cara! Acabou!!!”
“Calma, El Brujo. O que aconteceu?”
“Eu não sei cara. A coisa toda apenas aconteceu. Num momento estava tudo funcionando normalmente. E na manhã seguinte, o caos começou com força total!!!”
“Como assim?!”
“Minhas partes baixas estão uma bagunça, cara! Minhas bolas estão vermelhas, minha virilha está com alguma espécie de urticária, sei lá, cheia de bolotinhas ou espinhas! Maldito seja o sexo ocasional, cara! Chegou minha vez, cara, eu sei que chegou!!! Meu pau vai cair!!!”
“Calma aí! Você tá sentindo muita dor ou viu algum sangramento?”
“A coisa toda tá coçando sem parar! Não sei o que diabos fazer, cara!”
“Você tem Minancora em casa?”
“Minotauro?”
“Não, seu débil mental, MINANCORA! Aquele pote pequeno laranja com o desenho de um marinheiro!”
“Sei lá, porra! Peraí, deixa eu ver se tenho isso lá no banheiro, te ligo daqui a pouco...aiiii...”
Uns cinco minutos se passaram, durante os quais pensei nos meus problemas com as mulheres e minhas pseudo-angústias acerca do sexo ocasional. Talvez um divorciado como eu devesse mesmo ser enviado para alguma caverna longe da civilização e das mulheres. Eu estava a ponto de desenvolver tal projeto quando – feliz ou infelizmente – o telefone tocou novamente.
“Ei, sou eu. Eu encontrei o tal do Minotauro e...”
“Minancora...”
“Isso. Uma pomada, né? Pois é: lambuzei aquilo tudo na região afetada. Ardeu um pouco, mas acho que aliviou aos poucos. Tomara que melhore. Acho que era uma assadura ou algo do tipo. Achava que isso só dava em criança. Agora minhas partes baixas estão tão brancas que mais parecem o rosto do Marcel Marceau. Enfim: valeu, cara. Você salvou meus dias novamente. Te devo mais essa. Talvez mande aquele meu bootleg raro do AC/DC pelo Sedex. A máquina vai voltar à ativa, cara!”

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Brainwash...

Ainda estou em dívida com El Brujo. Alguns textos já ficaram prontos, outros serão finalizados neste final de semana. Aos poucos, a engrenagem volta a funcionar com força total. Long Live El Brujo!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Pitboyland - Semana Zero

Me mudei para Pitboyland; de mala, cuia e agendas. Mais notícias até o final do mês...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

....

Na correria...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Pré-Obituário

Sim. Por mais incrível que isso soe, divorciados pensam em morte. Ocasionalmente, pelo menos, como qualquer outra pessoa. Outro dia, pensei em como eu poderia me apresentar – ou melhor, ser apresentado – na hora do velório. Eu queria estar vestido com meu jeans, minha camiseta do AC/DC, meia e tênis (ou botas). Até aí nada de anormal, até porque aqueles que me conhecem sabem que eu não sou muito chegado em vestir terno. O toque de originalidade ficaria por conta de um daqueles adesivos que entregam em certos vôos internacionais: redondo, preto e com a frase “DO NOT DISTURB”. Bem que podiam colar um desses no meu caixão, na minha urna de cinzas, ou até na minha testa.
Prometo não reclamar.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O Apartamento que virou Quitinete

A novela da busca por um novo lar continua. Acordei bem cedo e visitei sete quitinetes na parte da manhã. Gostei mais das que tinham vista livre, óbvio. A que escolhi fica no primeiro andar e em um bloco longe da portaria, o que pode ser um martírio para o visitante, mas ótimo para mim, já que o IPTU apenas diminui à medida que o bloco fica mais distante da portaria. São 25 metros quadrados de espaço praticamente vazio, com exceção de um frigobar, da pia, do tanque, das quatro bocas de fogão a gás, e do banheiro minúsculo. Já morei em um 15 metros quadrados com tudo isso e outras coisas, o que diminuía ainda mais o espaço; então acho que não teria problema algum com 25 metros.
O desafio vai ser, como sempre, utilizar o espaço de maneira prática e agradável. São oito estantes abarrotadas de livros, filmes e discos; além de um armário antigo, uma mesa de escritório, uma mesa quadrada de cozinha (sobre a qual ficará o microondas...), três cadeiras, um gaveteiro para as roupas, quatro lixeiras, e cinco máquinas de escrever antigas (uma delas certamente deveria ficar em cima do armário antigo...).
Vou vender geladeira, fogão, e doar o colchão e demais móveis que não estou mais usando. Nem sei onde colocaria a tábua de passar (banheiro?), os baldes (banheiro?) e o material de limpeza (banheiro?). Sinto que a Tok&Stok e demais Casas Bahia da vida vão lucrar com a minha mudança.
O segredo, entretanto, é otimizar.

Sky's On Fire

Era uma sexta-feira normal. Eu estava na frente do computador, lendo e relendo notícias sobre acidentes aéreos, roubalheira mundial, shows aos quais não assistiria tão cedo, e estréias no cinema. Havia pedido uns sanduíches no Sky’s (louvados sejam seus funcionários, mesmo se a quantidade de batata frita ainda deixa a desejar...) e definitivamente não sentia remorso algum em estar engolindo nacos e mais nacos de junk food (ex-fast food) à medida que sorvia uma Coca-Cola básica. Meu Rolex Daytona Oyster Perpetual marcava 12:30.
Então eu começo a ouvir barulhos no quarto ao lado. A porta é aberta. Não demora muito para que meu irmão, famoso guitarrista e alto conhecedor do bas-fond de Hardcore Brasília, dê as caras após uma parte de madrugada e uma manhã bem dormidas.
“Euuuhh...” (este é o som produzido por pessoas que acabaram de acordar, caro leitor...)
“Mmmm...” (e este é o som de alguém que está mais interessado nas fotos das raparigas do Berlusconi que vazaram na rede...)
“Tá comendo o quê?...”
“Sky’s...”, respondo eu, ainda de olho na sirigaitas de topless na villa do Bozo italiano.
Foi como em uma daquelas cenas bíblicas filmadas por Hollywood: os Céus se abrindo, labaredas e lava jorrando lá de cima, um coro hiper-dramático (e eslavo) vociferando a perdição da raça humana, e Deus em carne e osso (rosto do Christopher Walken ou do Tom Waits, faz favor...) apontando um dedo acusador para a minha carinha de jornalista desempregado.
“SKY’S?????!!!!!”
“É, Sky’s...”
“Porra, tu só come essa merda, né?! Não sabe se alimentar direito?! Vai comer na rua, comer feijão, arroz e salada num restaurante por quilo!! Quanto é que tu pagou por isso?!”
“Dezoito mangos...”
“DEZOITO???!!!!” (mais coro à la Kubrick, mais fogo, mais anjos ameaçadores, etc.)
“Qual o problema?...”
“É por isso que tu vai ficar gordo e doente!!! Não sabe se alimentar direito!!! Só come gordura!!! Porque é que você não vai pra rua comer? Porque é que você não come um prato saudável? Porque é que...”
Nessa hora, o sangue me subiu à cabeça. Me descontrolei e comecei a cuspir ódio e ira na esperança de afugentar as críticas e retomar minha refeição. Esbravegei tal qual Sandokan tocado de ácido falsificado.
“MAS QUE MERDA!!!! EU COMO O QUE EU BEM ENTENDER, ONDE EU BEM ENTENDER, QUANDO BEM ENTENDER E CUSTE O QUE CUSTAR, E VOCÊ NÃO TEM MORAL ALGUMA PARA ME DAR ORDENS!!!! AGORA CAI FORA QUE EU NÃO QUERO MAIS CONVERSAR!!!! CAI FORA, PORRA!!!!”
Foi como se os tais anjos do Pré-Apocalipse, assim como o tal coro eslavo, se calassem, recolhessem seus instrumentos e trouxinhas, e dessem lugar a um silêncio tanto perturbador quanto revelador.
Meu irmão nada disse. Apenas saiu do meu quarto, entrou no dele e fechou a porta.
Pensei que tinha exagerado na dose da bronca, mas não me arrependi. Meu coração quase foi a 200 por hora, mas voltou ao normal depois que eu respirei fundo algumas vezes. Pombas! Que diabos é uma comida balanceada?! Eu como salada, eu como sanduíche, eu como macarrão, eu tomo café e tomo iogurte com cereais “indispensáveis ao organismo”. Resumindo: eu como de tudo e certamente não tenho culpa se um idiota resolve dar lição de moral toda vez que me vê fazendo algo que ELE acha errado, transformando o particular em geral, e berrando nos meus ouvidos que eu SÓ como macarrão, SÓ tomo café e SÓ me alimento de sanduíches do Sky’s.
Na verdade, eu sequer sei porque dou tanta importância ao fato.
Junho está sendo o mês da reviravolta. Preciso achar um novo lugar para morar, preciso arrumar um emprego, preciso resolver várias pequenas questões pendentes. Junho não está muito para sombra e água fresca. O plano é que, após resolvidos os principais problemas, vou voltar para uma atividade física, além de continuar praticando bateria (que muitos teimam em dizer que não é uma atividade física; tá certo, só fico empapado de suor por puro masoquismo...). Enquanto junho não acabar, a alimentação fica como está; ou seja, a meu ver, balanceada.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Corpo Estranho na Espuma

Foi o ápice de uma semana de decepções. A noite até que estava agradável, eu havia conseguido estacionar o Demônio Azulado de primeira na 108 Norte, e a companhia tinha cérebro útil. Eu não parava de alternar pensamentos acerca de minha situação com verbalizações de conhecimentos cinematográficos. Também alternava quibes fritos com goles de Original. E foi então, lá pela sétima ou oitava cerva, e falando sobre o fato de Boris Karloff ter sido filho de diplomata, que eu levei o susto.
Sobre a fina camada de espuma da cerveja de fabricação fluminense, jazia, tal qual corpo em neve siberiana, um curto fio de cabelo.
“Pelo iPod do Nazareno”, exclamei eu, já pra lá de Bagdá. “Que vil mente colocou tão baixo elemento na minha cervejinha?!”
Eu simplesmente abomino todo e qualquer corpo biológico não-alcóolico na minha cerveja das sextas-feiras. Posso estar na mais fétida das situações financeiras, posso estar no meio de um tiroteio entre morros cariocas, posso até me encontrar no mais “quente” dos bares de Mogadíscio; mas se na minha cerveja tem algum bicho ou um inocente fio de cabelo, é o início do fim.
Convenhamos: o sujeito está na merda, sem emprego fixo, sem relacionamento sério (ok, essa não vale muito...), sem luz no final do túnel, enfim, sem aquela bóia salva-vidas que faz a alegria de nove entre dez náufragos (...tem sempre um masoquista de plantão...). E aí, do nada, um inseto qualquer ou um fio de cabelo permeado de micróbios famintos e sedentos resolve transformar teu copo de cerveja em piscina olímpica. Quê que há, malandro? Tá pensando que meu dinheiro é capim? Nem a pau, Juvenal! Eu prezo pelos meus quatro mangos gastos com cada garrafa de cerveja. Eu posso não ter emprego – ainda –, mas entendo um mínimo de economia para concluir que cada centavo bem gasto é um passo dado na direção da riqueza. Ou algo assim.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Charme da Muchacha Tupiniquim

O lugar é diferente, dependendo da semana. Um restaurante na Asa Norte; uma banca de jornais em algum shopping. Um bar no Setor Sudoeste. Tanto faz. Nesses lugares – a princípio comuns – se esconde a muchacha tupiniquim verdadeira. Sem plásticas, sem apliques, sem preocupações que ultrapassem a vontade de ganhar um salário e sobreviver a mais uma semana na selva de pedra. O fato, entretanto, permanece quase o mesmo. O que diabos faço numa situação como essa? Pareço um daqueles adolescentes cheios de espinhas recém-saídos de algum filme dos anos 1980 exibidos pelo SBT após o “Viva a Noite”.
Isso sem falar na sensação de ter sido discretamente enxotado de alguma relação que mal teve um início. Nada de telefonemas. Nada de frases que façam algum sentido. Na verdade, as mesmas frases acabam fazendo sentido assim que você se dá conta de que foi dispensado. Você pensa: “foda-se, eu sou divorciado, não preciso desse drama todo duas vezes, e nem vou forçar coisa alguma...”. Você se acha durão, tem certeza de que está na crista de uma onda perfeita para divorciados e afins.
Mas chega uma hora em que você cai da prancha, e nem quer mais surfar. Fica na frente de uma Original no Beirute da Asa Norte, olhando ao redor, na esperança de que a pessoa certa chegue e diga algo perfeito. Não chega. Fica escutando outras pessoas falarem sobre relacionamento e soluções para diversos casos a princípio perdidos. Mas não adianta. Tudo entra por um ouvido e sai pelo outro, pois você já está cansado de toda essa besteira. Você pede mais uma Original e conta algo engraçado. Alguém diz que o Dia dos Namorados está chegando, e você simplesmente pensa em como seria ótimo se você arranjasse algum trabalho. Foda-se. Elas têm charme, elas têm papo, elas até têm carinho, mas elas também têm seus próprios problemas, e você está longe de ser prioridade para elas. Então você conclui que vai ficar na tua, sem encher o saco de ninguém, sem falar sobre Amor&Cia, sem sequer cometer o erro de responder à pergunta “o que você está pensando?”.
Enfim. Nada contra relacionamentos. Apenas uma péssima semana, com péssimas frases.

Operação Factotum

Já tem um tempo que não escrevo direito. Além dos problemas de praxe e das cobranças diárias, não sei por onde começar quando estou de frente para o caderno de texto ou com o rosto iluminado pela tela do computador. As idéias parecem vir no momento errado, sempre quando já estou fazendo outra coisa.
Os dois outros integrantes da banda tiveram um filho, que nasceu esta semana. Enquanto caminhava em direção à loja de roupas infantis para comprar um macacão, tive algumas idéias para textos. Também não parei de me culpar por não ter terminado alguns textos quando tive um tempo livre.
Mais cedo ou mais tarde, você retoma o ritmo, reencontra o prazer certo e liga o foda-se para elementos externos que, dias antes, pareciam prioridades. Você está de volta ao controle da máquina. É um tesão, mesmo quando o sentimento é de desilusão. Você apenas escreve, escreve, e escreve mais um pouco. No final do dia, você vai se deitar, mas cinco minutos mais tarde você descobre que faltou alguma idéia a ser redigida. Você levanta, acende a luz do escritório, anota tudo direitinho, desliga a luz e volta pra cama.

Culinária de Divorciado e Mea Culpa

Passei o Dia das Mães enfurnado em casa. Acordei cedo, enviei emails e dei telefonemas para a maioria das mães que conheço, e depois fui cuidar da vida. Acabei preparando um frango acompanhado de cebolinhas em conserva, tomates e azeitonas, o todo regado a molho shoyu, molho inglês e azeite. Apesar de meio salgado, a carne não ficou branca como da última vez em que preparei um frango. O fato, contudo, é que preciso aperfeiçoar a técnica. Só jogar os molhos quando a carne estiver bem dourada, por exemplo. Colocar menos molho shoyu, e mais azeite. Os tomates – daquele tipo cereja – ficaram bem, e eu só os coloquei no final. Preciso pensar em um acompanhamento. Acho que estava com preguiça para preparar um arroz ou um macarrão na manteiga.
Se minha mãe estivesse aqui, na certa me daria uma bronca e começaria a preparar um daqueles banquetes de domingo. Nada de restaurante nesses dias: é regra da família.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O Problema com Matadores Goianos...

“Riff Raff” é, na minha humilde opinião, uma das melhores canções do AC/DC. Na primeira vez em que morei em Pitboyland, em meados de 1992, tinha um programa da extinta e saudosa Fluminense FM cuja abertura era a “Riff Raff”. Apesar de o programa ser sobre surfe, eu sempre escutava apenas para ouvir a canção. Outro dia, voltando do cardiologista, estava escutando “Riff Raff” a todo volume e riscando a W3 Sul sob um sol forte, quando, em um dos sinais vermelhos, percebo que um senhor dentro de um Passat branco está me olhando com cara de poucos amigos. Era um sujeito de uns sessenta anos, com um rosto redondo rosa entrecortado por rugas que lhe davam a feição de um canalha. Por mais que isso soe como preconceito, apostaria 100 mangos como o cara era goiano, e já havia matado alguém. Acho que não curtia AC/DC, ou rock. Não dei a mínima. Se ele saísse do carro pra reclamar, eu faria pior. Ou apenas aumentaria o volume até o máximo e assistiria ao velho ter um ataque do coração numa temperatura de 28 graus Celsius. Eu estava com pressa, e ainda tinha de preparar o almoço.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Is It Safe?...

Fui ao dentista. Não que eu tenha aquele temor toda vez que agendo uma consulta. Só acho um pé-no-saco ter de ficar sentado naquela cadeira, com aquela luz forte de interrogatório no meu rosto, e a musiquinha de consultório ao fundo. Pra variar, escutei o que não queria, e fiquei com a pulga atrás da orelha no que tange às reais intenções do profissional que me atendeu. O fato é que eu usava aparelho dentário móvel na arcada superior, mas um dia fui lavá-lo e fiz a burrice de fazê-lo com vinagre. Não deu outra: o aparelho encolheu. Desde aquele dia, toda vez que piso em um dentista, o sujeito descarta a possibilidade de confeccionar um novo aparelho móvel. Já vai logo dizendo que aparelho móvel não vai adiantar, e que o que eu preciso mesmo é fazer uma puta cirurgia corretiva na mandíbula inferior. Coisa de sete meses de tratamento, fora a recuperação e o uso de um aparelho fixo. Já sacaram o quadro, né? Se não sacaram, imaginem cada um dos deputados federais e senadores usando aparelho dentário fixo. Pior que isso, só múmia do Museu do Cairo com uma boca metálica do tipo nerd.
O que esses “profissionais” querem mesmo é a minha grana, que, imagino, segundo eles, deve jorrar do meu rabo a cada meia hora, ao som da trilha do “Soletrando” do SBT. Pra reforçar essa teoria, os caras ainda me vêm com um papo de preencher questionário do qual constam as fatídicas perguntas “profissão do pai”, “profissão da mãe”, “nível escolar” e “local de trabalho”. Puta que o pariu!!! Se esse é o tipo de dentista que invadiu Portugal na década de 1980, ofereço meus serviços – armados de submetralhadora Kriss Super V, diga-se de passagem – para expulsá-los da terrinha dos meus ancestrais e mandá-los para a ilha de Sumatra ou coisa que o valha. Antiprofissionais que são, esses calhordas enchem a boca pra listar as etapas do tratamento, mas sequer perguntam qual o real objetivo do cliente, ou se o mesmo está a fim de gastar rios de dinheiro para ter o sorriso do Gianechini.
Eu não quero o sorriso do Gianechini; só quero meus dentes no lugar a preço módico. Meu dentista carioca resolveu meu problema sem fazer muitas perguntas ou me fazer preencher questionários nazistóides. Apenas sapecou minha boca com um chicletão vermelho, tirou o molde da minha arcada superior e confeccionou o bendito aparelho móvel em menos de uma semana. Fiquei com o mesmo aparelho por quase seis anos, só indo ao Rio para verificações de rotina. Lembro que gastava 50 reais por consulta, o papo com o Doutor Amando (meu dentista carioca) era divertido, e voltava pra Brasília feliz da vida, sabendo que aquele aparelho móvel estava mesmo resolvendo meu problema, e colocando meus dentes no lugar.
Já essa turma de mequetrefes formada nas “melhores universidades do País” só quer saber da minha grana. Minha opinião que vá para o lixo hospitalar. Paguei 90 mangos pra ouvir besteira da boca de um débil mental com voz de viado bahiano. O salafrário me disse que, caso eu não tratasse o problema, desenvolveria outros problemas, tais como de digestão. Nossa, que medinho dela. Só faltou me dizer que eu poderia ficar cego caso não escovasse os dentes corretamente. Foi aí que eu resolvi fazer com que aquele discurso chato entrasse por um ouvido e saísse pelo outro. O sujeito ainda me passou um sem-número de radiografias a serem realizadas em uma das clínicas listadas no verso da receita. Liguei para todas e – surpresa – nenhuma tinha convênio. Era cash ou trata de comprar uma máquina fotográfica descartável e se virar pra tirar as fotos.
Aí pensei cá com meus botões: apesar de não ter descartado uma visita ao Doutor Armando da próxima vez que estiver no Rio, já estou com idade suficiente para esquecer essa história de “saúde para fins estéticos”. Se eu vou ao cardiologista, não é para, no dia seguinte, começar a correr no Eixão com o tênis da moda, ou para freqüentar a academia dos bacanas ao som de alguma merda berrada pela Beyoncé ou pelo Jota Quest. Se eu vou ao oftalmologista, não é para adquirir a armação de óculos do Armani. E se eu vou ao dentista, não é para poder exibir meus cintilantes dentes para a caixa da padaria, para o mendigo do sinal, ou para a gatinha sem cérebro em alguma boate que possui aquela luz que faz teus dentes ficarem mais brancos que albino pelado na Antártida.
Se eu vou ao médico – e se eu pago para tanto – é para que ele dê um jeito no que está errado com a máquina. E não para que ele me transforme em um caixa eletrônico...
(p.s.: caso não tenham entendido o significado do título, revejam o filme "Maratona da Morte", com Dustin Hoffman, Roy Scheider e Laurence Olivier...)

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Melhor que jacaré do Peter Pan...

Mais uma vez, fui ao cardiologista. Desta vez para o teste de esforço, na esteira. Cheguei ao local por volta das 08:45, mas só fui atendido meia-hora mais tarde. Uma atendente me levou até uma salinha e logo avisou: “queira tirar a camisa, pois eu vou depilá-lo...”. Um piteuzinho de atendente, devo frisar. E isso logo pela manhã. De Prestobarba na mão, a moça foi logo depilando meu tórax, e eu achando aquilo tudo muito engraçado. Em seguida, me levaram para uma sala com uma esteira e um médico daqueles que nem olha pro rosto do paciente – eu já vi isso em algum lugar; e vocês?
Aí eu tirei novamente a camiseta e outra atendente – menos piteuzinho, diga-se de passagem – colocou aqueles adesivos redondos ligados a uma máquina por fios de várias cores. O médico ligou a esteira e eu comecei a andar. Fiquei olhando o estacionamento pela janela, e tinha um sujeito gordo pra caramba tentando entrar no carro dele, além de uma mulher que reclamava por seu carro ter sido arranhado.
No começo, era apenas uma caminhada, mas não demorou muito para que a velocidade da esteira aumentasse. Lá pelas tantas, eu tentava disfarçar o cansaço, e o médico, sempre de olho no computador dele, me solta a seguinte frase: “relojinho bom, esse seu, hein?”
Pois é. E ainda tem gente enchendo o meu saco dizendo que eu sou sedentário, que minha saúde não deve ser boa, e que eu devo estar com um pé na cova. Revenge is mine!!!
Findo o exame, vesti a camiseta, agradeci, peguei o elevador e parei numa lanchonete, onde comi um pão-de-queijo e tomei um suco de laranja. Aí voltei pro estacionamento, entrei no Demônio Azulado, coloquei o AC/DC no volume máximo e me pirulitei pela W3.

terça-feira, 7 de abril de 2009

O Homem do Curriculum Vitae Invisível

Não raro penso na questão do meu currículo. Ultimamente tenho feito uma certa peregrinação para distribuir as reles duas folhas de minha trajetória profissional (podem rir que eu deixo...). Na semana passada, fui a uma empresa especializada em tradução de documentos para lá deixar meu curriculum vitae. No prédio à la Paulo Octavio, apertei a campainha. Uma bela secretária atendeu. Perguntei com quem eu poderia deixar meu currículo. Ela respondeu que era com Sr. Fulano. Dei três passos e lá estava Sr. Fulano, sentado em uma mesa, rodeado por três outros funcionários – todos bem vestidos e silenciosos, diga-se de passagem –, e com a cara metida em uma papelada. Me apresentei e pedi-lhe que, por gentileza, aceitasse meu currículo. Com cara de poucos amigos e sem sequer olhar para o meu rosto, Sr. Fulano fez pouco caso da situação, disse que estava meio ocupado, mas que se eu deixasse o “papel” na mesa dele ele entraria em contato mais tarde. Isso tudo, pasmem, sempre olhando para baixo e evitando me encarar. Coloquei as duas folhas sobre a mesa. Em seguida, agradeci, desejei a todos bom trabalho e bom dia, me despedi e me pirulitei. Nem preciso dizer que Sr. Fulano – mais conhecido como Sr. Engravatado-Orgulhoso-Filho-de-uma-Puta-Leprosa – não ligou. Se bobear, meu currículo foi parar na caçamba de lixo, ou serviu como pedaço de papel para alguma anotação.
Mas eu não fiquei chateado. Confesso até que me espantei, mas sei que, de gente desse tipo, o planeta está abarrotado. E até me divirto com o fato de essas mesmas pessoas acharem que estão no topo de alguma cadeia alimentar. Aqui em casa não estão. Muito menos na casa dos meus pais, ou do meu irmão, ou na caverna habitada pelo tristonho Osama bin Laden. Sr. Fulano deveria saber que quando se vive em sociedade, o mínimo que se deve ter é respeito, pois respeito é bom e preserva os dentes. Como diria Maria Bethânia: “Olhos nos olhos / Quero ver o que você diz” (acho que é isso, pois não sou muito de escutar Maria Bethânia, apesar de achar que ela dá de mil naquele irmão avoado dela...).
Anyway: voltando à história do Sr. Fulano. Fico imaginando como seria a reação do próprio Sr. Fulano se ele entregasse algo a alguém que sequer tem o respeito de olhar a pessoa nos olhos. Afinal, se eu entreguei o meu currículo na birosca dele, foi porque alguém de meu apreço me recomendou a mesma birosca. Isso é propaganda, pombas! É ponto positivo, certo? Mas aí o sujeito chega no lugar e é tratado como intocável indiano...aí fica uma situação do tipo “Reverso da Fortuna” (daquele filme interessante com o Jeremy Irons e a Glenn Close...).
Basicamente, é como se Sr. Fulano fosse o Simon LeBon, do Duran Duran, e tivesse um iate (o Simon LeBon, ao que consta, tem vários e é um bom velejador...). Aí fica falando bem do iate, louvando o iate, contando vantagens sobre o iate e até resolve usar o iate naquele clipe da canção “Rio” (se não conhecem, baixem no YouTube, pois vale a pena...). Mas aí vem a surpresa: no meio do clipe, dá a louca no Simon LeBon/Sr. Fulano, e ele simplesmente começa a fazer um furo no casco do iate desferindo golpes de machado contra a embarcação. Não dá outra: o iate vai a pique, e leva Simon LeBon – além de toda a turma do Duran Duran/birosca pro fundo do mar.
É por isso que eu não fico chateado, e até me divirto.
(Agora, aqui entre nós, caros leitores, eu às vezes sou ou não sou melhor que o LaFontaine no quesito “Moral da História”, hein?...)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Nada Importante...

Dor de cabeça à noite. Mal-estar inexplicado. Sinfonia no silêncio da noite chuvosa: goteira do terceiro andar, cadeira de balanço do vizinho de cima, cães da quadra, fãs de BBB. Fiquei escutando música de rádio. Acho que estou a alguns passos de uma estafa. Pelo menos choveu forte, o que me fez dormir mais rápido, sem muito pensar nos problemas.

Ripar É preciso. Escutar Caetano NÃO É preciso...

Graças aos excelentes serviços de um amigo meu, fino apreciador do rock de qualidade, este divorciado aqui não caiu naquele mar de clichês que engole nove entre dez divorciados (i.e. gente crescida choramingando pelos cantos ao som de Caetano Veloso, Elis Regina e demais deprês da MPB...). O nobre rapaz em questão simplesmente baixou vários filmes da internet. Bons filmes, além de pérolas há muito esquecidas: “Soylent Green”, “Maximum Overdrive”, “Telefon”, “Gran Torino”, “Angels”. Outros aguardam na fila: “Das Boot”, “Doc Savage, The Man of Bronze”, “Outlander”, “Machine Gun Kelly”, “The Mechanic”, além de clássicos do cinema de guerra soviético.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Um Divorciado de Colete Salva-Vida

Estava assistindo a um DVD sobre as batalhas travadas entre os Aliados e os temíveis submarinos de Karl Dönitz no Oceano Atlântico. Lá pelas tantas, apaguei por um minuto. Apaguei visualmente, mas ainda escutava a voz do narrador e o texto relatando o torpedeamento de navios mercantes, em comboios escoltados pelos Aliados, por parte dos submarinos – U-Boats – alemães.
Dönitz não ia muito com as caras de Hitler, Goebbels e principalmente do gorducho Goering. Tanto é que foi ele, Dönitz, quem assinou, já no cargo de último führer do Reich, o armistício com os Aliados. Durante seu julgamento, em Nuremberg, ele foi acusado de crimes contra a Humanidade (principalmente porque deu a ordem para que a Marinha não resgatasse náufragos Aliados...); quase foi parar no cadafalso, se não fosse o testemunho do americano Nimitz, segundo o qual a política de resgate de náufragos do Eixo por parte dos Aliados não era lá muito diferente. Dönitz pegou dez aninhos, e só bateu as botas em 1980.
E por que diabos eu relato tudo isso em um blog de divorciado? Também não sei. As imagens do documentário eram interessantes, apesar de a coisa toda terminar em uma lista muito chata de comboios afundados, submarinos avariados, máquinas Enigma capturadas e, como sempre, muita gente indo para o fundo do Atlântico. Lá pelas tantas, até deu vontade de largar tudo e ir trabalhar em algum cargueiro malaio no meio do nada. Mas aí voltei à realidade dos fatos: tenho medo de águas escuras e tenho medo de tubarão.

Um certo alento no Inferno...

Já passava das 11 da noite quando abri a cerveja long-neck. Até consegui escrever algo, mas alguma coisa me fazia querer parar tudo e, mais uma vez, analisar a situação. Esta não era das melhores, mas certamente não era a pior. Prova disso estava nas páginas de jornais, nos sítios de notícias, na programação das rádios, nos livros de História. Minha situação beirava o agradável; o cômodo.
Na noite anterior, havia assistido ao “Soylent Green” de Fleischer, baseado no livro “Make Room, Make Room” de Harry Harrison. De minha parte, o personagem mais interessante é Sol Roth (interpretado, no filme, por um grandioso Edward G. Robinson, em seu último papel...). Ele é um “book”, idoso “das antigas” responsável pela análise de arquivos e livros no intuito de ajudar a resolver crimes e demais ocorrências policiais. Mais ou menos isso.
O porquê desta parêntese, eu não sei. Acho que deu vontade de me tornar um “book”à medida que este planeta fosse para as brebas.
Quase uma da madrugada, e a rádio continuava ligada na Brasília Super Rádio FM. Fred Astaire e Charles Trenet. Segunda garrafa de cerveja, e mais alguns pensamentos inúteis.

sábado, 28 de março de 2009

Die, HempHead, Die!!!

Os filhos-da-mãe estavam debaixo do bloco ao lado do meu. Tinham jeito de meliantes e analfabetos criados com toda a mordomia. Estavam fumando maconha. Tem dia em que você simplesmente não agüenta esse tipo de liberdade. A vontade é de comprar um daqueles fuzis de sniper (modelo Remy, preto, simplesmente lindo, conhecem?) e lascar os cartuchos nos miseráveis. Soa meio “eu-sou-um-adolescente-alemão-sem-amigos”, mas é fato que paciência tem limite. Mesmo um cara letrado feito eu paga seus impostos em dia, e certamente não quer que sua quadra vire a próxima Cidade de Deus do Plano Piloto. Mas vai falar isso para aquele ladrão que “governa” a cidade. O imbecil só quer saber de Copa de 2014, e de como os estádios vão ficar prontos. Não que seja uma vantagem, mas eu voto em Pitboyland.
O porteiro do prédio tomado momentaneamente pelos usuários de substância ilícita olhou para o grupo, mas nada fez. Ficou olhando com cara de pamonha, depois voltou para a sua guarita. Enquanto isso, eu liguei para El Brujo – decididamente, alguém ainda vai me chamar de viado – e informei a ocorrência.
“Malditos drogados, cara”, ele respondeu, emocionado. “Às vezes você tem de cortar o mal pela raiz; ter os colhões para fazer o que deve ser feito, e responder pelo que fez. Sabe o que eu estou querendo dizer, cara? Lembre-se das belas palavras do reverendo Brian Johnson em “For Those About to Rock”: “Stand up and be counted...”. Esses moleques têm de saber que a vida tem limites, cara. Fronteiras.”
De alguma maneira nebulosa, resolvi entrar na conversa.
“Mas não foi John Lennon quem disse que um mundo sem fronteiras era melhor?...”
“Exato, cara. E olha o que aconteceu com aquele hippie riquinho: levou teco de um fã gordo...Essa história de mundo sem fronteiras agora não passa de propaganda para vender celular, cara...Eu li que, na França, os caras estão processando as companhias de telefonia celular pois eles acham que certos níveis de freqüência dos portáteis causa câncer no cérebro...Coisa séria mesmo, cara...”
“Ok”, eu disse. “Mas e os maconheiros? O que eu faço com eles? Chamo o síndico? Chamo o prefeito da quadra? Chamo a polícia?”
“O síndico é um bundão, o prefeito é um idiota, e a polícia provavelmente nem vai chegar a tempo. E quando chegar, ainda vai te dar um esporro. Se bobear, te embarcam por desacato ou suspeita de trote...Relaxa. Não faz coisa alguma e continua observando esses maconheiros filhos-da-puta. Se eles aparecerem no Beirute e você reconhecê-los, nós descemos o cacete neles e ainda bebemos uma sobre seus cadáveres. Nós somos os bucaneiros desta cidade, cara. Agora tenho que ir. Meus nuggets da Turma da Mônica estão prontos. Te ligo mais tarde. Um abraço...”
Talvez aquela fosse mais uma batalha perdida. Mas no que dependesse de El Brujo e de mim, ainda venceríamos a guerra.

Tirou Sangue e foi ao Cardiologista...

Foi um dia mais corrido que os demais. Acordei cedo para fazer exame de sangue: enquanto a enfermeira espetava a agulha no meu braço, algum desses animadores inúteis tocava uma bossa-nova no violão na recepção. Aí fui para o consultório do cardiologista. A primeira em 35 anos.
O consultório tinha umas sete secretárias. A televisão estava ligada em um programa de variedades da Rede Record, no qual os apresentadores falavam sobre a atuação de Luciano Zafir em uma das novelas do canal, e davam a receita de uma mousse de maracujá. Duh. Mas o ápice do programa foi mesmo a reportagem sobre a verve musical do publicitário/debilóide Roberto Justus. O sujeito estava em um palco cantando “Just a Gigolo” (sem comentários) para um público de mulheres bonitas, hipnotizadas, sorridentes e desprovidas de cérebro. Após os aplausos de praxe, o repórter pergunta para o clone tupiniquim de Donald Trump se ele iria investir na carreira (de cantor, caro leitor...). Ao que Justus responde pela afirmativa, completando que, em um ano, a realização de uma turnê não estaria descartada. Good Lord. É a crise mostrando seu lado mais medonho.
O médico disse que minha pressão estava ótima, mas me pediu para voltar na semana que vem e fazer aquele teste do esforço, que consiste em andar em uma esteira durante algum tempo e realizar um eletrocardiograma ou coisa que o valha. Foi então que o mesmo cardiologista olhou para o meu primeiro pedido de exame de sangue e soltou a melhor: “...ah, tá faltando um item no pedido. Desce no laboratório lá embaixo e pede para eles colherem mais material...”. Danou-se. Lá fui eu visitar mais vampiros. Mais uma agulha, no outro braço, e dessa vez sem trilha sonora débil mental (na certa estava almoçando...). Ah, sim: enquanto estava esperando a consulta com o cardiologista, resolvi afanar – pegar emprestado – uma revista de golfe. não jogo golfe mas estou precisando de um par de luvas para os ensaios com a banda. Fã de Phil Rudd não raro é fã de Phil Rudd nos mínimos detalhes.
Almocei McDonald’s (i.e. entupidores de artérias) sem remorso algum. Joguei fora as mangas que apodreceram.
Fora isso, fiquei esperando a hora do ensaio das quintas escutando rádio e lendo os jornais. Xuxa tem orgasmos múltiplos. Madonna foi às compras, quer dizer, às adoções em algum país africano. Um pai matou o próprio filho ao socar a cabeça do mesmo (lembrei de um diálogo do personagem de Al Pacino no genial “Heat”...). A dona da Daslu foi para o xilindró comandado pelo PCC (um banhozinho de realidade nunca é demais, madame...).
À noite, fui ensaiar. Além das composições próprias, tocamos bons covers: “Middle of the Road” (Pretenders), “Here Comes the Rain Again” (Eurythmics), “Nada Tanto Assim” (Kid Abelha), “Blood Stains” (Agent Orange). Bebi duas latinhas de cerveja. Chegando em casa, tomei um banho, comi um Miojo e telefonei para El Brujo: o creep estava no Beirute da Asa Norte, completamente fora de si, aos gritos de “horrível, madame” (frase-símbolo de Clodovil Hernandez...). Desligou na minha cara. Ainda escutei um pouco de Brasília Super Rádio FM, e capotei na cama.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Aqueles Momentos de Dúvida (Redux)

Mais uma noite de sábado, e eu aqui enfurnado no apartamento. Escuto música alta nos headphones, rabisco algo nos cadernos e agendas, arrumo alguns livros, leio alguns artigos da pilha de revistas ao lado da cama. Nada de mais. Meio chato às vezes. Então vou até o quarto de televisão e fico assistindo a algum DVD daquela série “Battlefield”, que traz um resumo das grandes batalhas ocorridas ao longo da Segunda Guerra Mundial. Já vi os episódio sobre a Batalha da Manchúria (os soviéticos ganham), sobre Pearl Harbor (os americanos levam pau, e alguns dizem que levaram de propósito, só pra entrar na guerra...), sobre a Batalha de El Alamein (os britânicos ganham) e agora vou assistir ao DVD sobre o cerco a Leningrado (ninguém ganha, mesmo se os soviéticos permanecem de pé...).
O sofá-cama virou estante de DVDs que quero rever desde que cancelei a assinatura da TV a cabo. Filmes antigos, shows do AC/DC, filmes de porradaria, filmes de Fred Astaire, filmes de Clint Eastwood. Enfim: uma verdadeira videoteca de solteiro. A sessão pode acabar à meia-noite, não raro mais tarde. Aí apago tudo, vejo se está tudo em ordem, encho minha garrafa de água e vou dormir. Ou pelo menos tentar dormir. Pois até eu cair no sono, surgem aqueles momentos de dúvida que são piores que o mais horrível dos pesadelos com zumbis.

terça-feira, 17 de março de 2009

Apartamento...

Encontrei um na 409 Norte. É uma quitinete direitinha, mas vou ter de me livrar da máquina de lavar roupa, logo o item mais prático para um recém-divorciado. A máquina é boa, funciona bem, não é daquela de tambor vertical que destrói qualquer peça de roupa. O novo apartamento em questão fica perto de um Big Box, o que apenas contribui para a praticidade da mudança.
Tem 32 metros quadrados, espaço suficiente para as minhas tralhas. O lado ruim é que não tem garagem, e muito menos um depósito: isso quer dizer que vou ter de me livrar de muita coisa; papelada, em sua maioria. A ex me aconselhou a me livrar das fitas de filmes VHS, mas o fato é que já viraram antigüidade e eu, na condição de cinéfilo colecionador, tenho a maior dificuldade em me livrar de peças raras. Os arquivos de jornais devem ir para o lixo de primeira, sem que eu sequer pense em guardá-los. Ainda não sei se o rack da Tok&Stok que suporta a televisão vai caber no novo apartamento. A mesa do computador certamente será descartada, junto com o carrinho preto que suporta alguns arquivos. Vou usar algumas estantes de ferro e o armário antigo – que, atualmente, serve para guardar os CDs – como separação para os dois ambientes, o quarto de dormir e a sala.
Vou visitar a coisa toda amanhã de manhã e tirar algumas fotos.
Também vou verificar alguns das quadras 900 Norte...Nada maus...

quinta-feira, 5 de março de 2009

Meu Diário, Minha Perdição

O final de semana foi passado na companhia dos meus papéis. As agendas, principalmente. Pela última contagem, já são 25 diários e agendas, todos recheados de memórias, afazeres domésticos, reações, decepções, aflições, recortes, besteiras, trechos de textos, manchas de café e duas ou três raríssimas incursões escritas por parte de outras pessoas. Capazes de queimar o filme de muita gente – não necessariamente boa –, esses diários formam parte do meu legado neste planeta. Azar de quem não gostou. Sorte de quem chegou a ler. A simples visão dos diários ordenados em um das prateleiras já causa um calafrio na espinha. Que diabos eu estava pensando quando eu comecei com essa história de agenda e de diário? Certamente não era para imitar aquelas débeis mentais W.A.S.P. glorificadas por filmes de adolescentes da década de 1980. Tampouco era para me divertir. A única resposta coerente para tal obsessão é medonha: loucura.
Eu cheguei a mostrar uma das agendas para El Brujo. Ele percorreu as páginas em silêncio, depois deu um gole na cerveja e disse: “cara, tu é mais maluco do que eu pensava...”.
De fato.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

E esse apartamento? Sai ou não sai?

A procura por um apartamento menor continua. Visitei alguns para aluguel, outros para venda. Quitinetes, na maioria. Semana passada, visitei um apartamento de quarto e sala, cuja proprietária tem uma conhecida em comum. Marquei a visita para a tarde do sábado. Lá chegando, fui recebido com rapapés fora do comum, além de um copo d’água. A boa senhora – que mora com dois gatos (os animais, diga-se de passagem, e não gogo boys catados na rua...) pedia 1300 mangos de aluguel. Pombas! Por 1300 mangos, prefiro ficar neste, no qual pago 100 mangos a mais e tenho, além de três quartos, sala e dependência de empregada, duas vagas na garagem e um depósito (aquele que apelidei de “Minha Guantánamo”...). Não pago IPTU, conheço o porteiro, e tenho a vantagem de morar no segundo andar (ao contrário do quarto e sala da boa senhora, que fica no sexto andar, mas cujo elevador só vai até o quinto...).
Mas a história não termina aqui. A boa senhora queria alugar o imóvel mobiliado. E onde diabos eu iria colocar minhas cinco estantes recheadas de livros e filmes? O pior é que quase todos os móveis e objetos dela são do tipo “não-toca-que-quebra”: cristaleira, taças, pequenos objetos de cerâmica, e por aí vai. A boa senhora ainda veio com uma história de que deixaria as taças de champanhe no caso de eu querer servir um champanhe pra namorada. Quem sou eu para ter grana para ser gasta em champanhe pra namorada? Acabei de me divorciar, porra!!! Uma pena, pois a vista era legal e o lugar, calmo.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Queime o Éden por nós, Lux!!!

Noite de Beirute abarrotado de gente esquisita. Sentados no meio da fuzarca, eu e El Brujo já estamos na sétima Original. Qualquer ameaça externa será repelida na base do tapão na mesa e do xingamento à la Toshiro Mifune. Não é uma noite como as outras. Mais um ícone do rock bateu as botas, e estamos tristes. Por que diabos essa vida se livra dos melhores, e teima em deixar a corja – políticos, publicitários, apresentadores, âncoras, entre outros – curtindo na base da sombra e da água fresca? Com a morte de Lux Interior, vocalista do The Cramps, estamos, eu e El Brujo, mais uma vez órfãos. Ficamos órfãos umas três ou quatro vezes por ano, e, à medida que os anos passam, essa proporção de morte desnecessária só cresce. Com Lux, entretanto, o baque é mais forte. Adeus mistura de ficção científica, fetiches, sexo e rockabilly em uma única forma de arte. Adeus Lux introduzindo um clip dos Ramones. Adeus Lux lambendo o salto-alto de Poison Ivy enquanto esta atira riffs tal qual atiradora caolha de canivetes envenenados. Encolhedores de cabeças do mundo, uni-vos e chorai!

Memória Lacrada tal qual Drácula em Hibernação

Resolvi fazer umas arrumações nas fotos antigas. Muita coisa de Pitboyland. Muita foto bizarra. Muita gente que não vejo há décadas. Comprei dois grossos álbuns, coloquei as fotos lá dentro e customizei o todo. Quanto à maioria das fotos da ex, juntei todas e coloquei em uma caixa junto com os demais pequenos objetos – papéis, postais, lembranças – relacionadas à ex. Depois peguei a dita caixa e passei quatro ou cinco voltas de fita crepe, na qual escrevi, com o pincel atômico negro, “D”. Não resolveu muita coisa, mas é menos uma coisa com a qual se preocupar. Tenho certeza de que, mais dia, menos dia, vou ter de guardar a caixa em outro lugar. E aí as memórias virão como enxurrada de dilúvio.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Poema de um Divorciado IV (rascunho)

Muito louco fiquei quando a décima cerveja tomei
Meu estômago estava vazio e do sofá levantei
Com o corpo desequilibrado as escadas desci
Adentrei o Demônio Azulado mas o iPod esqueci
Por tesourinhas e playboys aos urros passei
E para minha máxima glória no Giraffa’s sentei
Pedi dois Cheesefrangos e um milkshake
E pousei meu alvo traseiro ao lado de uma garota de peitos fake
“Boa noite”, disse eu, todo babão
Ela não respondeu e me deu um belo tapão
Naquela mesa engordurada uma lição aprendi
Jamais fale com estranhos e nunca imite o Didi

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Façam suas apostas!

Apartamento de El Brujo. Quase meia-noite. Bebemos uma das quatro garrafas de Famous Grouse adquiridas pelo insólito anfitrião em um leilão da Receita Federal. Lembramos da cena final de Romeo is Bleeding: simplesmente aterradora, com um Gary Oldman no auge, e Ornette Coleman de fundo. Lembramos da época em que enchíamos os cornos de Keep Cooler e achávamos aquilo o máximo. Lembramos de como éramos inocentes imbecis. É meio contraditório, confesso, mas costumo ser muito mais disciplinado e atento em fases nas quais, em princípio, tenho mais liberdade. Parecemos dois piratas abandonados em alguma ilha do Pacífico. Lá fora, o Destino. E a mesma horda de alienados de sempre. Cantamos “Somewhere Over the Rainbow” a plenos pulmões. Aquela vizinha chata que se dane; não vai durar muito mesmo, tem mais é que curtir a vida. Será que vou voltar a fumar? Será que vou me transformar no galinha que costumava ser? Será que vou engordar comendo muita junk food e pizza da Dom Bosco nas noites de sexta? Será que vou me enfurnar no apartamento tal qual aquele barbudo tristonho sem amigos? Ouvimos o Bone Machine de Tom Waits e ficamos com inveja. Ouvimos um disco do Keith Jarret mas tiramos antes que acabe – não foi feito para ser escutado nesses momentos. No lugar, colocamos o disco com a trilha da série Mr. Lucky, composta por Mancini. Over and out. Por enquanto.

Algo Assim...

Não é exatamente recomeçar do zero. Já existe uma certa base, tanto física, quanto emocional; sem falar nos detalhes práticos, tais como um teto seguro, um meio de transporte confiável, uma geladeira com comida dentro, dinheiro no banco, e alguma comunicação com o mundo exterior.
Ainda assim, a impressão de andar em terreno novo, pouco explorado, permanece à medida que as horas, os dias, as semanas, passam; à medida que uma nova rotina se impõe de maneira discreta. Os primeiros dias são os mais estranhos. Você fica em casa, não tem ninguém com quem conversar sobre amenidades, ninguém com quem dividir o café preto, ninguém com quem falar enquanto prepara o jantar, ninguém com quem assistir ao noticiário. Bem estranho. Isso muda aos poucos, com a tal rotina, mas mesmo assim você sente a diferença. Você tenta preencher a lacuna com leituras, música, estações de rádio, discos antigos na vitrola, filmes de terror vistos dezenas de vezes, mas não é e nunca vai ser a mesma coisa. Por mais que a nova rotina venha acompanhada de alguma esperança e de ar fresco, você se sente cerceado, indeciso quanto a algum dilema que convive contigo.
O resto está por vir.

Poema de um Divorciado III (rascunho)

El Brujo comprou um saco de Doritos
E aquela pinga que na minha boca não entra
El Brujo esqueceu a pizza de sexta
Mas trouxe Killer Pecans e cigarros de menta
Eu não fumo mas tenho cinzeiro
Eu não tomo Martinis mas tenho coqueteleira
Eu sou apenas mais um divorciado
Que procura encher a carteira

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Poema de um Divorciado II (rascunho)

Cruel é a madrugada
Pois a cervejinha acabou
Agora na geladeira
Só vinho restou
Cruel é a madrugada
Entre morcegos e sonolentos porteiros
Enquanto na rádio do finado locutor
Não tocam AC/DC ou demais grupos festeiros

Colchão e Rádio

Doei a cama japonesa para a Casa do Ceará. Que façam bom proveito e ajudem a reforçar os vínculos entre aquela corajosa região tupiniquim e a milenar ilha nipônica. Quanto a mim, durmo no colchão que sobrou. A ex ia levá-lo para a kitchnet, mas descobriu, atônita, que o colchão é 10 centímetros mais largo que a estrutura da cama. Ficou comigo. Também cancelei a NET e resolvi usar os 150 mangos mensais referentes à conta da mesma em assuntos mais culturalmente rentáveis, tais como filmes, discos, gasolina e cervejas no Beirute da Asa Norte. Assim, fico com a televisão – que permanece desligada quase que o dia inteiro – mas escuto muito mais rádio (aliás, rádio é prático: você não precisa ficar com os olhos colados numa tela, e pode fazer outras coisas enquanto o locutor fala de um bando de assunto diferente...).

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Poema de um Divorciado (rascunho)

Adeus Noites passadas diante da novela
Adeus Faxina de final de semana
Glória a Ti, Ó Filme de terror regado a cerveja e Jack Daniels
Glória a Vós, Ó Detentores de Ruffles, Doritos e costelinhas gordurosas
Adeus Ignóbil Ana Maria Braga das manhãs de dia útil
Adeus Romances cinematográficos inspirados na impiedosa Jane Austen
Glória a Ti, Ó Beirute da Asa Norte
Glória a Vós, Ó Coleção Brasileirinhas
Adeus Fofocas acerca do BBB
Adeus Acessos de Raiva pelo telefone
Glória a Ti, Ó El Brujo de um prédio discreto
Glória a Mim, Divorciado, Desempregado e Pseudo-Priápico

domingo, 18 de janeiro de 2009

Another Void...

O apartamento está praticamente vazio. Sala vazia. Quarto vazio. Cama de casal prestes a ser vendida. Sinceramente, não sei como me comportar diante dos objetos que estão indo embora. Na minha “Guantanamo” – o depósito cercado de grades localizado na garagem – não vai demorar para que eu jogue muito papel no lixo; arquivos de pouca utilidade, contas e demais documentos que já passaram da validade.
Vou dormir algum tempo no sofá-cama quebrado até comprar um colchão de casal padrão; o que, no meu caso, não deixa de ser irônico. Vou ter de arrumar outro aparelho de DVD, já que o Home Theatre era da ex. Quanto à procura por um novo – e menor – apartamento, olhei alguns em uma quadra da Asa Norte e gostei do que vi. No dia seguinte, soube que a polícia havia desbaratado uma quadrilha de traficantes de drogas na mesma quadra; mas ninguém foi preso, já que as quantidades encontradas com os membros eram pequenas demais para uma prisão.
Para completar o quadro, assisti a uma reportagem na televisão segundo a qual imobiliárias e construtoras não investiam muito em apartamento de quarto e sala, pois os lucros não eram os melhores. Em outras palavras: meu oásis ainda parece estar longe, enquanto o número de miragens só aumenta.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Mas como ia dizendo...

Eu e El Brujo abrimos uma cerveja. Já passava da meia-noite, o ar estava abafado e Noel Coward despejava uma canção tesuda em meio a livros, discos, contas atrasadas, recortes de jornais e objetos insólitos. A vida certamente tinha seus momentos de revolta, mas isso não a impedia de ter seus minutos de esplendor.
“Isso é único...”, suspirou El Brujo após um gole.
“Com certeza. Eu baixei algumas coisas dele...”
“Eu quase não acho discos desse sujeito em Hardcore Brasília.”
“Ou do Bobby Short...”
“É, mas acho que tenho uma fita com uma gravações do Short no Carlyle...”
“Sei, já ouvi. Eu até procurei um DVD na Barnes&Noble mas não tinha no estoque.”
O silêncio se fez novamente, em respeito a Coward. Mas aquela era Hardcore Brasília, e até pessoas geniais tais como Noel Coward e Bobby Short precisavam arregaçar as manguinhas para serem respeitadas pelos temíveis hombres candangos.
“Que calor filho-da-puta, hein?!”, vociferou El Brujo.
“Ainda bem que existe cerveja gelada.”

Aqueles momentos em que o cérebro pára...

Tive sorte em fazer a bateria do demônio Azulado funcionar. A manhã estava quente, o Demônio Azulado estava um forno e minha paciência estava esgotada. Ainda tinha de levar a ex para o trabalho, já que seu carro sofrera uma tentativa de arrombamento e a porta do motorista exibia um rombo de chave de parafuso. Até pensei que 2009 seria apenas uma repetição de 2008, mas isso era exagero. O Destino não seria tão pouco original comigo. De qualquer maneira, peguei a Esplanada dos Ministérios, deixei a ex no prédio de traços monótonos e voltei para a via que me levaria de volta pra casa. O vento e a música ajudavam bastante, mas eu pensava em absolutamente nada. Nenhum projeto, nenhum desejo, nenhuma forma de alegria com relação à nova fase. Imobilidade cerebral. Neurônios tomando água mineral com gás em um copo com bastante gelo.
Tudo estava calmo em casa.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Hardcore Brasília nas Garras de El Brujo

Após duas semanas em Pitboyland, estava de volta à capital. Pronto para um recomeço daqueles, cheio de coisa pra resolver, mas sempre contando com o apoio do principal embaixador de Hardcore Brasília, El Brujo. Mal havia chegado em casa, coloquei as malas num canto, desci até a garagem e entrei no Demônio Azulado. Quando cheguei ao folclórico prédio de El Brujo, o Mendigo Iluminado estava lá, falando sozinho e fumando um cigarrinho qualquer. “Pois é, essa crise vai levar o mundo pro buraco. Mas não sou eu quem vai cavar...”.
Subi os lances de escada e toquei a campainha. Acho que estava tocando Dean Martin. El Brujo abriu a porta ao mesmo tempo em que segurava uma coxinha de padaria em uma das mãos.
“Voltou, foi?”
“Pois é. Tem cerveja gelada?”
“Porra, abri a última pra acompanhar esta coxinha. Vai lá na cozinha...”
“Valeu.”
A cerveja estava especial. Nada como cerveja em Hardcore Brasília. O papo começou de maneira calma, sem ir com muita sede ao pote. Mulheres, projetos, nacos de desespero e demais medos semanas antes da mudança para outro apartamento. Agora que a ex já arranjou uma kitchnet pra ela, começo a procurar apartamento para mim. Ainda não sei se vai ser um esquema quarto-e-sala ou algo menor. Tenho muitos livros, muitos discos, muito papel, oito estantes ao todo; além dos móveis do escritório, o rack pra televisão, a própria televisão, e um sofá-cama. Até dormiria em um simples colchão no chão, mas até isso está indefinido.
“Já achou algum?”
“Tem um na 314 Norte. Ótimo, pequeno, todas as minhas coisas cabem lá dentro, e ainda é calmo. Só não tem garagem, mas o porteiro segura as pontas e passa confiança.”
“Quanto?”
“Quase 200 paus. Mas acho que o cara faz por menos se pagarmos à vista.”
“Meio caro, mas é um investimento.”
“Com certeza.”
Quando a cerveja e as coxinhas de padaria acabaram, decidimos passar pelo Beirute da Norte. Entramos no Demônio Azulado – que, aliás, após duas semanas parado, começara a dar sinais de cansaço – e pegamos o Eixinho. Não tivemos dificuldade para estacionar. Começamos com uma Original, quatro quibes fritos e uma discussão sobre a polêmica frase da mais recente protegée de Sílvio Santos, Maisa: “...eu gosto de um pobrinho...”.
Afinal, a noite era uma criança.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Escolhas Perdidas em meio a Timidas Explosões

Após muitos anos, passei o Natal e o Réveillon no Rio, com a família. Conhecia os meandros nada agradáveis de outros tempos: canícula infernal, as ruas apinhadas de turistas (nacionais e internacionais), transporte público digno de uma cena de “Duro de Matar”, cobranças de familiares, as mesmas perguntas sobre a minha vida, a nova avalanche de perguntas acerca da separação, e por aí vai. Serviu para esfriar a cabeça e juntar material para textos, desenhos e demais projetos. A ex ficou em Brasília, de pois foi passar as festas em Gramado e demais cidades do Sul.
Eu tinha algumas escolhas para o réveillon. Passar no apartamento do meu primo, me embebedar e falar besteira; passar com a família, no apartamento de frente para o canal do Jardim de Alah, não me embebedar, dormir cedo e ter sonhos molhados; ou ir para uma festa em um triplex no Humaitá, apartamento de gente desconhecida, três festas em uma, três ambientes com três D.J.s, comida e bebida liberada, possibilidade de mulheres fáceis e bêbadas, eu bêbado, e sabe-se lá o que mais o Destino jogasse nas minhas mãos.
Acabei escolhendo a terceira opção. E olha que titubeei. Se não fosse uma decisão amiga, na certa ficaria em casa, pensando besteira, invejando meio mundo e imaginando como seria o meu réveillon perfeito. Mas eu já estava de saco cheio desse esquema. Era meu primeiro réveillon na condição de divorciado, catzo! Depois disso, seria outro esquema, tão ou mais certinho quanto o anterior.
A festa foi decente. Eu me diverti muito em meio a pessoas que se divertiram. Eu não conhecia quase ninguém e quase ninguém me conhecia. Isto é o que eu chamo de equilíbrio.