sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Mais uma volta

Alguma sorte na Praia de Botafogo. 415. Seis ou sete pessoas. Sento sozinho perto da janela. Casal discute discretamente. Motorista fala sobre horários. Cobrador fala sobre igreja. Vento quente. Muitos buracos. Casal aumenta o tom. Motorista fala sobre seu superior. Cobrador fala sobre igreja. Homem com boné do Metallica. Casal se cala. Motorista reclama dos sinais. Cobrador reclama da igreja. Casal salta. Prostituta entra em Copacabana. Motorista dá boa noite. Cobrador permanece calado. Homem com boné salta. Vento esfria na Lagoa.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Pérolas da MCB (Música Popular de Boteco)

Três instrumentos de sopro:
1)Trombone
2)Oboé
3)Tua irmã...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Este Meu Carnaval Desalmado...



"Padawan que dorme na areia, o Lado Negro da Força leva", já dizia, mui sabiamente, Obi-Wan Kenobi, calejado guerreiro das galáxias e figurinha fácil nas rodas de samba do Beirute da Asa Norte. Os tempos, contudo, são de Carnaval em Pitboyland. E isso significa muita mudança: invasão de turistas (tudo bem, as suecas e moçambicanas estão perdoadas...); multiplicação dos tais choques de ordem (só falta a camisa marrom...); crescimento da hipocrisia política; aparições fantasmagóricas de Jesus "Rain Man" Luz; exagero de minhas idas à lanchonete para tomar um suco de manga gigante; entre outros fatos.
Desde o começo de fevereiro, Pitboyland já funcionava com seus motores a todo vapor para as loucuras de mais um Carnaval.
Este vosso humilde escriba, entretanto, não estava alienado a ponto de adorar o bole-bole do pagode ou o sacode-sacode das nádegas mulatas de alguma musa em algum comercial do Prezunic. Apesar de ter um fraco pela dita mulata, meu corpo não obedecia aos festejos carnavalescos. Era tudo muito corrupto e hipócrita para mim, e eu dispensava toda e qualquer explicação – sociológica, econômica ou cultural – oriunda de mentes ditas "experientes".
"Dane-se o Carnaval!", bravejava eu ao abrir mais uma cerveja e folhear a revista da tv a cabo. "Dane-se o carnaval, e todos aqueles camarotes escravocratas recheados de filhos de uma mesma piranha!!!". Sim, era uma daquelas noites em que a raiva dava uma de Esther Williams viciada em anfetaminas nadando em estilo borboleta na hemoglobina de minhas veias.
Um dos canais de filmes exibia "Efeito Dominó", um desses filmes ingleses baseados em fatos reais. ascândalos envolvendo a realeza, membros do Parlamento, prostiranhas de gosto sueco, aristocracia sado-maso, e um roubo a banco muito do chinfrim; o todo estrelado por Jason Statham, o Ferrobrás de Albion.
Meu ex-advogado – que os Filhos de Ghandi o tenham... – costumava dizer que não gostava de Jason Statham. Não dava muitas explicações, mas fazia questão de marcar muito bem marcado seu absoluto desprezo pelo Alexandre-Frota-Bebedo-de-Guiness. Meu único, digamos, "desacerto" com o ator era saber se ele realmente havia nascido com aquela barba por fazer e aquele olhar de garoto-enxaqueca.
Para dizer a verdade, eu não estava com a menor vontade de escrever. Em meio aos blocos e bailes de carnaval, eu apenas queria curtir o calor noturno, tomar uma cerveja gelada, assistir a algum filme óbvio, escutar hits dos anos 80 e pensar um mínimo na vida que eu levava. Foi escutando um velho – e único – sucesso de Nikka Costa que percebi que eu era apenas mais um sujeito sortudo passando por mais um carnaval de almas alegres e potencialmente decepcionadas com o que encontrariam no final do sambódromo chamado vida. Um governador chorava em uma cela de luxo. A corrida presidencial havia começado havia tempos. Anomalia Brega não sabia dirigir um Porsche. E centenas de piratas somalis na certa transformavam o Chifre da África em um imenso parque de diversões ao som de "Only in my Dreams", de Debbie Gibson.
Ok. Carnaval não era minha praia (ok. A própria praia não era a minha praia...). ainda assim, a situação não era – ao contrário do que muitos diziam – desesperadora. Eu tinha pouco tempo, mas algum tempo assim mesmo. ninguém enchia meu saco após as 22 horas, e os que o faziam logo se arrependiam. Dava pra escutar uma Bonnie Tyler cantar "Here She Comes", ou um Bruce Springsteen entoar alegremente "Workin’ on the Highway". Dava pra ouvir Duran Duran e sua "Is There Anyone Out There", ou a Jim Carrol Band e uma mórbida "People Who Died". Tudo isso era muito bom, muito revigorante; especialmente quando eu pensava no ridículo empregado por grupos de homens na tentativa de levar alguma mulher pra cama por meio de cantadas nauseantes, sorrisos doentios e mentiras de um centavo a peça.
Eu estava muito bem em casa, no meu quarto-escritório, bebendo a enésima cerveja, comendo um amendoim torrado e rabiscando algo nos cadernos e agendas. Até podia me preocupar com o dia seguinte – um domingo de Carnaval... – mas já havia programado metade dele em menos de um minuto. Tal "dom" – ou "maldição"... – não era bem vist por muitos: diziam que era muito sufocante, muito artificial, que não deixava liberdade alguma. Como quase sempre, eu não dava a mínima, e continuava meus afazeres de sempre; lendo, escrevendo, arrumando, desarrumando, escutando, recortando e podando. Pouca gente ligava, e eu saba disso. Era a mesma história havia décadas. Mais dia, menos dia, o Carnaval passaria e a vida voltaria ao normal ao meu redor.
Era isso ou nada.