quarta-feira, 10 de junho de 2009

O Apartamento que virou Quitinete

A novela da busca por um novo lar continua. Acordei bem cedo e visitei sete quitinetes na parte da manhã. Gostei mais das que tinham vista livre, óbvio. A que escolhi fica no primeiro andar e em um bloco longe da portaria, o que pode ser um martírio para o visitante, mas ótimo para mim, já que o IPTU apenas diminui à medida que o bloco fica mais distante da portaria. São 25 metros quadrados de espaço praticamente vazio, com exceção de um frigobar, da pia, do tanque, das quatro bocas de fogão a gás, e do banheiro minúsculo. Já morei em um 15 metros quadrados com tudo isso e outras coisas, o que diminuía ainda mais o espaço; então acho que não teria problema algum com 25 metros.
O desafio vai ser, como sempre, utilizar o espaço de maneira prática e agradável. São oito estantes abarrotadas de livros, filmes e discos; além de um armário antigo, uma mesa de escritório, uma mesa quadrada de cozinha (sobre a qual ficará o microondas...), três cadeiras, um gaveteiro para as roupas, quatro lixeiras, e cinco máquinas de escrever antigas (uma delas certamente deveria ficar em cima do armário antigo...).
Vou vender geladeira, fogão, e doar o colchão e demais móveis que não estou mais usando. Nem sei onde colocaria a tábua de passar (banheiro?), os baldes (banheiro?) e o material de limpeza (banheiro?). Sinto que a Tok&Stok e demais Casas Bahia da vida vão lucrar com a minha mudança.
O segredo, entretanto, é otimizar.

Sky's On Fire

Era uma sexta-feira normal. Eu estava na frente do computador, lendo e relendo notícias sobre acidentes aéreos, roubalheira mundial, shows aos quais não assistiria tão cedo, e estréias no cinema. Havia pedido uns sanduíches no Sky’s (louvados sejam seus funcionários, mesmo se a quantidade de batata frita ainda deixa a desejar...) e definitivamente não sentia remorso algum em estar engolindo nacos e mais nacos de junk food (ex-fast food) à medida que sorvia uma Coca-Cola básica. Meu Rolex Daytona Oyster Perpetual marcava 12:30.
Então eu começo a ouvir barulhos no quarto ao lado. A porta é aberta. Não demora muito para que meu irmão, famoso guitarrista e alto conhecedor do bas-fond de Hardcore Brasília, dê as caras após uma parte de madrugada e uma manhã bem dormidas.
“Euuuhh...” (este é o som produzido por pessoas que acabaram de acordar, caro leitor...)
“Mmmm...” (e este é o som de alguém que está mais interessado nas fotos das raparigas do Berlusconi que vazaram na rede...)
“Tá comendo o quê?...”
“Sky’s...”, respondo eu, ainda de olho na sirigaitas de topless na villa do Bozo italiano.
Foi como em uma daquelas cenas bíblicas filmadas por Hollywood: os Céus se abrindo, labaredas e lava jorrando lá de cima, um coro hiper-dramático (e eslavo) vociferando a perdição da raça humana, e Deus em carne e osso (rosto do Christopher Walken ou do Tom Waits, faz favor...) apontando um dedo acusador para a minha carinha de jornalista desempregado.
“SKY’S?????!!!!!”
“É, Sky’s...”
“Porra, tu só come essa merda, né?! Não sabe se alimentar direito?! Vai comer na rua, comer feijão, arroz e salada num restaurante por quilo!! Quanto é que tu pagou por isso?!”
“Dezoito mangos...”
“DEZOITO???!!!!” (mais coro à la Kubrick, mais fogo, mais anjos ameaçadores, etc.)
“Qual o problema?...”
“É por isso que tu vai ficar gordo e doente!!! Não sabe se alimentar direito!!! Só come gordura!!! Porque é que você não vai pra rua comer? Porque é que você não come um prato saudável? Porque é que...”
Nessa hora, o sangue me subiu à cabeça. Me descontrolei e comecei a cuspir ódio e ira na esperança de afugentar as críticas e retomar minha refeição. Esbravegei tal qual Sandokan tocado de ácido falsificado.
“MAS QUE MERDA!!!! EU COMO O QUE EU BEM ENTENDER, ONDE EU BEM ENTENDER, QUANDO BEM ENTENDER E CUSTE O QUE CUSTAR, E VOCÊ NÃO TEM MORAL ALGUMA PARA ME DAR ORDENS!!!! AGORA CAI FORA QUE EU NÃO QUERO MAIS CONVERSAR!!!! CAI FORA, PORRA!!!!”
Foi como se os tais anjos do Pré-Apocalipse, assim como o tal coro eslavo, se calassem, recolhessem seus instrumentos e trouxinhas, e dessem lugar a um silêncio tanto perturbador quanto revelador.
Meu irmão nada disse. Apenas saiu do meu quarto, entrou no dele e fechou a porta.
Pensei que tinha exagerado na dose da bronca, mas não me arrependi. Meu coração quase foi a 200 por hora, mas voltou ao normal depois que eu respirei fundo algumas vezes. Pombas! Que diabos é uma comida balanceada?! Eu como salada, eu como sanduíche, eu como macarrão, eu tomo café e tomo iogurte com cereais “indispensáveis ao organismo”. Resumindo: eu como de tudo e certamente não tenho culpa se um idiota resolve dar lição de moral toda vez que me vê fazendo algo que ELE acha errado, transformando o particular em geral, e berrando nos meus ouvidos que eu SÓ como macarrão, SÓ tomo café e SÓ me alimento de sanduíches do Sky’s.
Na verdade, eu sequer sei porque dou tanta importância ao fato.
Junho está sendo o mês da reviravolta. Preciso achar um novo lugar para morar, preciso arrumar um emprego, preciso resolver várias pequenas questões pendentes. Junho não está muito para sombra e água fresca. O plano é que, após resolvidos os principais problemas, vou voltar para uma atividade física, além de continuar praticando bateria (que muitos teimam em dizer que não é uma atividade física; tá certo, só fico empapado de suor por puro masoquismo...). Enquanto junho não acabar, a alimentação fica como está; ou seja, a meu ver, balanceada.