sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Tempo Morto

Ainda chuviscava quando adentrei minha antiga faculdade de Jornalismo, às margens da Lagoa. Nenhum rosto conhecido, apenas mais uma leva de jovens sonhando com um futuro brilhante e a praia do final-de-semana. Na sala de atendimento e informações, um casal de alunos fazia algum tipo de serviço pro-bono, respondendo, sem muito entusiasmo, às perguntas mais freqüentes.
Após um ou dois minutos de espera, fui atendido pelo rapaz que se parecia com uma mistura de renegado emo e travesti surrado. Perguntei se a faculdade oferecia algum tipo de mestrado em Comunicação Social. Entre uma e outra cutucada no nariz, o sujeito respondeu que a faculdade não oferecia Mestrado, apenas um MBA. Em seguida, leu o texto exibido pela página do site da faculdade. Enquanto escutava o enfadonho recital, eu olhava para baixo, tentando conter o sono e pensando no que poderia fazer no caminho de volta pra casa. Findo o lenga-lenga do emo, agradeci as informações, desejei bom-dia e me pirulitei chuva afora.
Subi a rua interna em direção à Visconde de Pirajá, andei até o Bar 20 e pedi um suco grande de manga.
Tinha a impressão de estar em algum vácuo, sem saber o que fazer e incapaz de tomar uma decisão lógica. Um turbilhão de informações, imagens, sons e sensações rodava em meu cérebro tal qual pirulito de porta de barbeiro em filme de mafioso. Nenhum movimento de minha parte. Nenhum próximo passo. Sozinho com um copo de suco de manga na mão, eu me sentia o perfeito inútil; o pária que não conseguia alcançar as expectativas alheias. O renegado que sempre atraía alternados olhares de suspeita, desconfiança e desprezo.
Cinco mangos pelo suco – mais a caixinha, obrigado – e eu comecei a andar feito um zumbi. De volta para casa, atravessando o canal do Jardim de Alá Akbar, colocando a chave na abertura do portão cinza, cruzando a portaria, entrando no elevador, entrando em casa, caindo na cama, fechando os olhos e desejando que aquilo parasse por mais algum tempo.