quarta-feira, 3 de junho de 2009

Corpo Estranho na Espuma

Foi o ápice de uma semana de decepções. A noite até que estava agradável, eu havia conseguido estacionar o Demônio Azulado de primeira na 108 Norte, e a companhia tinha cérebro útil. Eu não parava de alternar pensamentos acerca de minha situação com verbalizações de conhecimentos cinematográficos. Também alternava quibes fritos com goles de Original. E foi então, lá pela sétima ou oitava cerva, e falando sobre o fato de Boris Karloff ter sido filho de diplomata, que eu levei o susto.
Sobre a fina camada de espuma da cerveja de fabricação fluminense, jazia, tal qual corpo em neve siberiana, um curto fio de cabelo.
“Pelo iPod do Nazareno”, exclamei eu, já pra lá de Bagdá. “Que vil mente colocou tão baixo elemento na minha cervejinha?!”
Eu simplesmente abomino todo e qualquer corpo biológico não-alcóolico na minha cerveja das sextas-feiras. Posso estar na mais fétida das situações financeiras, posso estar no meio de um tiroteio entre morros cariocas, posso até me encontrar no mais “quente” dos bares de Mogadíscio; mas se na minha cerveja tem algum bicho ou um inocente fio de cabelo, é o início do fim.
Convenhamos: o sujeito está na merda, sem emprego fixo, sem relacionamento sério (ok, essa não vale muito...), sem luz no final do túnel, enfim, sem aquela bóia salva-vidas que faz a alegria de nove entre dez náufragos (...tem sempre um masoquista de plantão...). E aí, do nada, um inseto qualquer ou um fio de cabelo permeado de micróbios famintos e sedentos resolve transformar teu copo de cerveja em piscina olímpica. Quê que há, malandro? Tá pensando que meu dinheiro é capim? Nem a pau, Juvenal! Eu prezo pelos meus quatro mangos gastos com cada garrafa de cerveja. Eu posso não ter emprego – ainda –, mas entendo um mínimo de economia para concluir que cada centavo bem gasto é um passo dado na direção da riqueza. Ou algo assim.