quarta-feira, 15 de abril de 2009

Is It Safe?...

Fui ao dentista. Não que eu tenha aquele temor toda vez que agendo uma consulta. Só acho um pé-no-saco ter de ficar sentado naquela cadeira, com aquela luz forte de interrogatório no meu rosto, e a musiquinha de consultório ao fundo. Pra variar, escutei o que não queria, e fiquei com a pulga atrás da orelha no que tange às reais intenções do profissional que me atendeu. O fato é que eu usava aparelho dentário móvel na arcada superior, mas um dia fui lavá-lo e fiz a burrice de fazê-lo com vinagre. Não deu outra: o aparelho encolheu. Desde aquele dia, toda vez que piso em um dentista, o sujeito descarta a possibilidade de confeccionar um novo aparelho móvel. Já vai logo dizendo que aparelho móvel não vai adiantar, e que o que eu preciso mesmo é fazer uma puta cirurgia corretiva na mandíbula inferior. Coisa de sete meses de tratamento, fora a recuperação e o uso de um aparelho fixo. Já sacaram o quadro, né? Se não sacaram, imaginem cada um dos deputados federais e senadores usando aparelho dentário fixo. Pior que isso, só múmia do Museu do Cairo com uma boca metálica do tipo nerd.
O que esses “profissionais” querem mesmo é a minha grana, que, imagino, segundo eles, deve jorrar do meu rabo a cada meia hora, ao som da trilha do “Soletrando” do SBT. Pra reforçar essa teoria, os caras ainda me vêm com um papo de preencher questionário do qual constam as fatídicas perguntas “profissão do pai”, “profissão da mãe”, “nível escolar” e “local de trabalho”. Puta que o pariu!!! Se esse é o tipo de dentista que invadiu Portugal na década de 1980, ofereço meus serviços – armados de submetralhadora Kriss Super V, diga-se de passagem – para expulsá-los da terrinha dos meus ancestrais e mandá-los para a ilha de Sumatra ou coisa que o valha. Antiprofissionais que são, esses calhordas enchem a boca pra listar as etapas do tratamento, mas sequer perguntam qual o real objetivo do cliente, ou se o mesmo está a fim de gastar rios de dinheiro para ter o sorriso do Gianechini.
Eu não quero o sorriso do Gianechini; só quero meus dentes no lugar a preço módico. Meu dentista carioca resolveu meu problema sem fazer muitas perguntas ou me fazer preencher questionários nazistóides. Apenas sapecou minha boca com um chicletão vermelho, tirou o molde da minha arcada superior e confeccionou o bendito aparelho móvel em menos de uma semana. Fiquei com o mesmo aparelho por quase seis anos, só indo ao Rio para verificações de rotina. Lembro que gastava 50 reais por consulta, o papo com o Doutor Amando (meu dentista carioca) era divertido, e voltava pra Brasília feliz da vida, sabendo que aquele aparelho móvel estava mesmo resolvendo meu problema, e colocando meus dentes no lugar.
Já essa turma de mequetrefes formada nas “melhores universidades do País” só quer saber da minha grana. Minha opinião que vá para o lixo hospitalar. Paguei 90 mangos pra ouvir besteira da boca de um débil mental com voz de viado bahiano. O salafrário me disse que, caso eu não tratasse o problema, desenvolveria outros problemas, tais como de digestão. Nossa, que medinho dela. Só faltou me dizer que eu poderia ficar cego caso não escovasse os dentes corretamente. Foi aí que eu resolvi fazer com que aquele discurso chato entrasse por um ouvido e saísse pelo outro. O sujeito ainda me passou um sem-número de radiografias a serem realizadas em uma das clínicas listadas no verso da receita. Liguei para todas e – surpresa – nenhuma tinha convênio. Era cash ou trata de comprar uma máquina fotográfica descartável e se virar pra tirar as fotos.
Aí pensei cá com meus botões: apesar de não ter descartado uma visita ao Doutor Armando da próxima vez que estiver no Rio, já estou com idade suficiente para esquecer essa história de “saúde para fins estéticos”. Se eu vou ao cardiologista, não é para, no dia seguinte, começar a correr no Eixão com o tênis da moda, ou para freqüentar a academia dos bacanas ao som de alguma merda berrada pela Beyoncé ou pelo Jota Quest. Se eu vou ao oftalmologista, não é para adquirir a armação de óculos do Armani. E se eu vou ao dentista, não é para poder exibir meus cintilantes dentes para a caixa da padaria, para o mendigo do sinal, ou para a gatinha sem cérebro em alguma boate que possui aquela luz que faz teus dentes ficarem mais brancos que albino pelado na Antártida.
Se eu vou ao médico – e se eu pago para tanto – é para que ele dê um jeito no que está errado com a máquina. E não para que ele me transforme em um caixa eletrônico...
(p.s.: caso não tenham entendido o significado do título, revejam o filme "Maratona da Morte", com Dustin Hoffman, Roy Scheider e Laurence Olivier...)