segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Façam suas apostas!

Apartamento de El Brujo. Quase meia-noite. Bebemos uma das quatro garrafas de Famous Grouse adquiridas pelo insólito anfitrião em um leilão da Receita Federal. Lembramos da cena final de Romeo is Bleeding: simplesmente aterradora, com um Gary Oldman no auge, e Ornette Coleman de fundo. Lembramos da época em que enchíamos os cornos de Keep Cooler e achávamos aquilo o máximo. Lembramos de como éramos inocentes imbecis. É meio contraditório, confesso, mas costumo ser muito mais disciplinado e atento em fases nas quais, em princípio, tenho mais liberdade. Parecemos dois piratas abandonados em alguma ilha do Pacífico. Lá fora, o Destino. E a mesma horda de alienados de sempre. Cantamos “Somewhere Over the Rainbow” a plenos pulmões. Aquela vizinha chata que se dane; não vai durar muito mesmo, tem mais é que curtir a vida. Será que vou voltar a fumar? Será que vou me transformar no galinha que costumava ser? Será que vou engordar comendo muita junk food e pizza da Dom Bosco nas noites de sexta? Será que vou me enfurnar no apartamento tal qual aquele barbudo tristonho sem amigos? Ouvimos o Bone Machine de Tom Waits e ficamos com inveja. Ouvimos um disco do Keith Jarret mas tiramos antes que acabe – não foi feito para ser escutado nesses momentos. No lugar, colocamos o disco com a trilha da série Mr. Lucky, composta por Mancini. Over and out. Por enquanto.

Algo Assim...

Não é exatamente recomeçar do zero. Já existe uma certa base, tanto física, quanto emocional; sem falar nos detalhes práticos, tais como um teto seguro, um meio de transporte confiável, uma geladeira com comida dentro, dinheiro no banco, e alguma comunicação com o mundo exterior.
Ainda assim, a impressão de andar em terreno novo, pouco explorado, permanece à medida que as horas, os dias, as semanas, passam; à medida que uma nova rotina se impõe de maneira discreta. Os primeiros dias são os mais estranhos. Você fica em casa, não tem ninguém com quem conversar sobre amenidades, ninguém com quem dividir o café preto, ninguém com quem falar enquanto prepara o jantar, ninguém com quem assistir ao noticiário. Bem estranho. Isso muda aos poucos, com a tal rotina, mas mesmo assim você sente a diferença. Você tenta preencher a lacuna com leituras, música, estações de rádio, discos antigos na vitrola, filmes de terror vistos dezenas de vezes, mas não é e nunca vai ser a mesma coisa. Por mais que a nova rotina venha acompanhada de alguma esperança e de ar fresco, você se sente cerceado, indeciso quanto a algum dilema que convive contigo.
O resto está por vir.

Poema de um Divorciado III (rascunho)

El Brujo comprou um saco de Doritos
E aquela pinga que na minha boca não entra
El Brujo esqueceu a pizza de sexta
Mas trouxe Killer Pecans e cigarros de menta
Eu não fumo mas tenho cinzeiro
Eu não tomo Martinis mas tenho coqueteleira
Eu sou apenas mais um divorciado
Que procura encher a carteira