sábado, 28 de março de 2009

Die, HempHead, Die!!!

Os filhos-da-mãe estavam debaixo do bloco ao lado do meu. Tinham jeito de meliantes e analfabetos criados com toda a mordomia. Estavam fumando maconha. Tem dia em que você simplesmente não agüenta esse tipo de liberdade. A vontade é de comprar um daqueles fuzis de sniper (modelo Remy, preto, simplesmente lindo, conhecem?) e lascar os cartuchos nos miseráveis. Soa meio “eu-sou-um-adolescente-alemão-sem-amigos”, mas é fato que paciência tem limite. Mesmo um cara letrado feito eu paga seus impostos em dia, e certamente não quer que sua quadra vire a próxima Cidade de Deus do Plano Piloto. Mas vai falar isso para aquele ladrão que “governa” a cidade. O imbecil só quer saber de Copa de 2014, e de como os estádios vão ficar prontos. Não que seja uma vantagem, mas eu voto em Pitboyland.
O porteiro do prédio tomado momentaneamente pelos usuários de substância ilícita olhou para o grupo, mas nada fez. Ficou olhando com cara de pamonha, depois voltou para a sua guarita. Enquanto isso, eu liguei para El Brujo – decididamente, alguém ainda vai me chamar de viado – e informei a ocorrência.
“Malditos drogados, cara”, ele respondeu, emocionado. “Às vezes você tem de cortar o mal pela raiz; ter os colhões para fazer o que deve ser feito, e responder pelo que fez. Sabe o que eu estou querendo dizer, cara? Lembre-se das belas palavras do reverendo Brian Johnson em “For Those About to Rock”: “Stand up and be counted...”. Esses moleques têm de saber que a vida tem limites, cara. Fronteiras.”
De alguma maneira nebulosa, resolvi entrar na conversa.
“Mas não foi John Lennon quem disse que um mundo sem fronteiras era melhor?...”
“Exato, cara. E olha o que aconteceu com aquele hippie riquinho: levou teco de um fã gordo...Essa história de mundo sem fronteiras agora não passa de propaganda para vender celular, cara...Eu li que, na França, os caras estão processando as companhias de telefonia celular pois eles acham que certos níveis de freqüência dos portáteis causa câncer no cérebro...Coisa séria mesmo, cara...”
“Ok”, eu disse. “Mas e os maconheiros? O que eu faço com eles? Chamo o síndico? Chamo o prefeito da quadra? Chamo a polícia?”
“O síndico é um bundão, o prefeito é um idiota, e a polícia provavelmente nem vai chegar a tempo. E quando chegar, ainda vai te dar um esporro. Se bobear, te embarcam por desacato ou suspeita de trote...Relaxa. Não faz coisa alguma e continua observando esses maconheiros filhos-da-puta. Se eles aparecerem no Beirute e você reconhecê-los, nós descemos o cacete neles e ainda bebemos uma sobre seus cadáveres. Nós somos os bucaneiros desta cidade, cara. Agora tenho que ir. Meus nuggets da Turma da Mônica estão prontos. Te ligo mais tarde. Um abraço...”
Talvez aquela fosse mais uma batalha perdida. Mas no que dependesse de El Brujo e de mim, ainda venceríamos a guerra.

Tirou Sangue e foi ao Cardiologista...

Foi um dia mais corrido que os demais. Acordei cedo para fazer exame de sangue: enquanto a enfermeira espetava a agulha no meu braço, algum desses animadores inúteis tocava uma bossa-nova no violão na recepção. Aí fui para o consultório do cardiologista. A primeira em 35 anos.
O consultório tinha umas sete secretárias. A televisão estava ligada em um programa de variedades da Rede Record, no qual os apresentadores falavam sobre a atuação de Luciano Zafir em uma das novelas do canal, e davam a receita de uma mousse de maracujá. Duh. Mas o ápice do programa foi mesmo a reportagem sobre a verve musical do publicitário/debilóide Roberto Justus. O sujeito estava em um palco cantando “Just a Gigolo” (sem comentários) para um público de mulheres bonitas, hipnotizadas, sorridentes e desprovidas de cérebro. Após os aplausos de praxe, o repórter pergunta para o clone tupiniquim de Donald Trump se ele iria investir na carreira (de cantor, caro leitor...). Ao que Justus responde pela afirmativa, completando que, em um ano, a realização de uma turnê não estaria descartada. Good Lord. É a crise mostrando seu lado mais medonho.
O médico disse que minha pressão estava ótima, mas me pediu para voltar na semana que vem e fazer aquele teste do esforço, que consiste em andar em uma esteira durante algum tempo e realizar um eletrocardiograma ou coisa que o valha. Foi então que o mesmo cardiologista olhou para o meu primeiro pedido de exame de sangue e soltou a melhor: “...ah, tá faltando um item no pedido. Desce no laboratório lá embaixo e pede para eles colherem mais material...”. Danou-se. Lá fui eu visitar mais vampiros. Mais uma agulha, no outro braço, e dessa vez sem trilha sonora débil mental (na certa estava almoçando...). Ah, sim: enquanto estava esperando a consulta com o cardiologista, resolvi afanar – pegar emprestado – uma revista de golfe. não jogo golfe mas estou precisando de um par de luvas para os ensaios com a banda. Fã de Phil Rudd não raro é fã de Phil Rudd nos mínimos detalhes.
Almocei McDonald’s (i.e. entupidores de artérias) sem remorso algum. Joguei fora as mangas que apodreceram.
Fora isso, fiquei esperando a hora do ensaio das quintas escutando rádio e lendo os jornais. Xuxa tem orgasmos múltiplos. Madonna foi às compras, quer dizer, às adoções em algum país africano. Um pai matou o próprio filho ao socar a cabeça do mesmo (lembrei de um diálogo do personagem de Al Pacino no genial “Heat”...). A dona da Daslu foi para o xilindró comandado pelo PCC (um banhozinho de realidade nunca é demais, madame...).
À noite, fui ensaiar. Além das composições próprias, tocamos bons covers: “Middle of the Road” (Pretenders), “Here Comes the Rain Again” (Eurythmics), “Nada Tanto Assim” (Kid Abelha), “Blood Stains” (Agent Orange). Bebi duas latinhas de cerveja. Chegando em casa, tomei um banho, comi um Miojo e telefonei para El Brujo: o creep estava no Beirute da Asa Norte, completamente fora de si, aos gritos de “horrível, madame” (frase-símbolo de Clodovil Hernandez...). Desligou na minha cara. Ainda escutei um pouco de Brasília Super Rádio FM, e capotei na cama.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Aqueles Momentos de Dúvida (Redux)

Mais uma noite de sábado, e eu aqui enfurnado no apartamento. Escuto música alta nos headphones, rabisco algo nos cadernos e agendas, arrumo alguns livros, leio alguns artigos da pilha de revistas ao lado da cama. Nada de mais. Meio chato às vezes. Então vou até o quarto de televisão e fico assistindo a algum DVD daquela série “Battlefield”, que traz um resumo das grandes batalhas ocorridas ao longo da Segunda Guerra Mundial. Já vi os episódio sobre a Batalha da Manchúria (os soviéticos ganham), sobre Pearl Harbor (os americanos levam pau, e alguns dizem que levaram de propósito, só pra entrar na guerra...), sobre a Batalha de El Alamein (os britânicos ganham) e agora vou assistir ao DVD sobre o cerco a Leningrado (ninguém ganha, mesmo se os soviéticos permanecem de pé...).
O sofá-cama virou estante de DVDs que quero rever desde que cancelei a assinatura da TV a cabo. Filmes antigos, shows do AC/DC, filmes de porradaria, filmes de Fred Astaire, filmes de Clint Eastwood. Enfim: uma verdadeira videoteca de solteiro. A sessão pode acabar à meia-noite, não raro mais tarde. Aí apago tudo, vejo se está tudo em ordem, encho minha garrafa de água e vou dormir. Ou pelo menos tentar dormir. Pois até eu cair no sono, surgem aqueles momentos de dúvida que são piores que o mais horrível dos pesadelos com zumbis.