quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Charme da Muchacha Tupiniquim

O lugar é diferente, dependendo da semana. Um restaurante na Asa Norte; uma banca de jornais em algum shopping. Um bar no Setor Sudoeste. Tanto faz. Nesses lugares – a princípio comuns – se esconde a muchacha tupiniquim verdadeira. Sem plásticas, sem apliques, sem preocupações que ultrapassem a vontade de ganhar um salário e sobreviver a mais uma semana na selva de pedra. O fato, entretanto, permanece quase o mesmo. O que diabos faço numa situação como essa? Pareço um daqueles adolescentes cheios de espinhas recém-saídos de algum filme dos anos 1980 exibidos pelo SBT após o “Viva a Noite”.
Isso sem falar na sensação de ter sido discretamente enxotado de alguma relação que mal teve um início. Nada de telefonemas. Nada de frases que façam algum sentido. Na verdade, as mesmas frases acabam fazendo sentido assim que você se dá conta de que foi dispensado. Você pensa: “foda-se, eu sou divorciado, não preciso desse drama todo duas vezes, e nem vou forçar coisa alguma...”. Você se acha durão, tem certeza de que está na crista de uma onda perfeita para divorciados e afins.
Mas chega uma hora em que você cai da prancha, e nem quer mais surfar. Fica na frente de uma Original no Beirute da Asa Norte, olhando ao redor, na esperança de que a pessoa certa chegue e diga algo perfeito. Não chega. Fica escutando outras pessoas falarem sobre relacionamento e soluções para diversos casos a princípio perdidos. Mas não adianta. Tudo entra por um ouvido e sai pelo outro, pois você já está cansado de toda essa besteira. Você pede mais uma Original e conta algo engraçado. Alguém diz que o Dia dos Namorados está chegando, e você simplesmente pensa em como seria ótimo se você arranjasse algum trabalho. Foda-se. Elas têm charme, elas têm papo, elas até têm carinho, mas elas também têm seus próprios problemas, e você está longe de ser prioridade para elas. Então você conclui que vai ficar na tua, sem encher o saco de ninguém, sem falar sobre Amor&Cia, sem sequer cometer o erro de responder à pergunta “o que você está pensando?”.
Enfim. Nada contra relacionamentos. Apenas uma péssima semana, com péssimas frases.

Operação Factotum

Já tem um tempo que não escrevo direito. Além dos problemas de praxe e das cobranças diárias, não sei por onde começar quando estou de frente para o caderno de texto ou com o rosto iluminado pela tela do computador. As idéias parecem vir no momento errado, sempre quando já estou fazendo outra coisa.
Os dois outros integrantes da banda tiveram um filho, que nasceu esta semana. Enquanto caminhava em direção à loja de roupas infantis para comprar um macacão, tive algumas idéias para textos. Também não parei de me culpar por não ter terminado alguns textos quando tive um tempo livre.
Mais cedo ou mais tarde, você retoma o ritmo, reencontra o prazer certo e liga o foda-se para elementos externos que, dias antes, pareciam prioridades. Você está de volta ao controle da máquina. É um tesão, mesmo quando o sentimento é de desilusão. Você apenas escreve, escreve, e escreve mais um pouco. No final do dia, você vai se deitar, mas cinco minutos mais tarde você descobre que faltou alguma idéia a ser redigida. Você levanta, acende a luz do escritório, anota tudo direitinho, desliga a luz e volta pra cama.

Culinária de Divorciado e Mea Culpa

Passei o Dia das Mães enfurnado em casa. Acordei cedo, enviei emails e dei telefonemas para a maioria das mães que conheço, e depois fui cuidar da vida. Acabei preparando um frango acompanhado de cebolinhas em conserva, tomates e azeitonas, o todo regado a molho shoyu, molho inglês e azeite. Apesar de meio salgado, a carne não ficou branca como da última vez em que preparei um frango. O fato, contudo, é que preciso aperfeiçoar a técnica. Só jogar os molhos quando a carne estiver bem dourada, por exemplo. Colocar menos molho shoyu, e mais azeite. Os tomates – daquele tipo cereja – ficaram bem, e eu só os coloquei no final. Preciso pensar em um acompanhamento. Acho que estava com preguiça para preparar um arroz ou um macarrão na manteiga.
Se minha mãe estivesse aqui, na certa me daria uma bronca e começaria a preparar um daqueles banquetes de domingo. Nada de restaurante nesses dias: é regra da família.