terça-feira, 7 de abril de 2009

O Homem do Curriculum Vitae Invisível

Não raro penso na questão do meu currículo. Ultimamente tenho feito uma certa peregrinação para distribuir as reles duas folhas de minha trajetória profissional (podem rir que eu deixo...). Na semana passada, fui a uma empresa especializada em tradução de documentos para lá deixar meu curriculum vitae. No prédio à la Paulo Octavio, apertei a campainha. Uma bela secretária atendeu. Perguntei com quem eu poderia deixar meu currículo. Ela respondeu que era com Sr. Fulano. Dei três passos e lá estava Sr. Fulano, sentado em uma mesa, rodeado por três outros funcionários – todos bem vestidos e silenciosos, diga-se de passagem –, e com a cara metida em uma papelada. Me apresentei e pedi-lhe que, por gentileza, aceitasse meu currículo. Com cara de poucos amigos e sem sequer olhar para o meu rosto, Sr. Fulano fez pouco caso da situação, disse que estava meio ocupado, mas que se eu deixasse o “papel” na mesa dele ele entraria em contato mais tarde. Isso tudo, pasmem, sempre olhando para baixo e evitando me encarar. Coloquei as duas folhas sobre a mesa. Em seguida, agradeci, desejei a todos bom trabalho e bom dia, me despedi e me pirulitei. Nem preciso dizer que Sr. Fulano – mais conhecido como Sr. Engravatado-Orgulhoso-Filho-de-uma-Puta-Leprosa – não ligou. Se bobear, meu currículo foi parar na caçamba de lixo, ou serviu como pedaço de papel para alguma anotação.
Mas eu não fiquei chateado. Confesso até que me espantei, mas sei que, de gente desse tipo, o planeta está abarrotado. E até me divirto com o fato de essas mesmas pessoas acharem que estão no topo de alguma cadeia alimentar. Aqui em casa não estão. Muito menos na casa dos meus pais, ou do meu irmão, ou na caverna habitada pelo tristonho Osama bin Laden. Sr. Fulano deveria saber que quando se vive em sociedade, o mínimo que se deve ter é respeito, pois respeito é bom e preserva os dentes. Como diria Maria Bethânia: “Olhos nos olhos / Quero ver o que você diz” (acho que é isso, pois não sou muito de escutar Maria Bethânia, apesar de achar que ela dá de mil naquele irmão avoado dela...).
Anyway: voltando à história do Sr. Fulano. Fico imaginando como seria a reação do próprio Sr. Fulano se ele entregasse algo a alguém que sequer tem o respeito de olhar a pessoa nos olhos. Afinal, se eu entreguei o meu currículo na birosca dele, foi porque alguém de meu apreço me recomendou a mesma birosca. Isso é propaganda, pombas! É ponto positivo, certo? Mas aí o sujeito chega no lugar e é tratado como intocável indiano...aí fica uma situação do tipo “Reverso da Fortuna” (daquele filme interessante com o Jeremy Irons e a Glenn Close...).
Basicamente, é como se Sr. Fulano fosse o Simon LeBon, do Duran Duran, e tivesse um iate (o Simon LeBon, ao que consta, tem vários e é um bom velejador...). Aí fica falando bem do iate, louvando o iate, contando vantagens sobre o iate e até resolve usar o iate naquele clipe da canção “Rio” (se não conhecem, baixem no YouTube, pois vale a pena...). Mas aí vem a surpresa: no meio do clipe, dá a louca no Simon LeBon/Sr. Fulano, e ele simplesmente começa a fazer um furo no casco do iate desferindo golpes de machado contra a embarcação. Não dá outra: o iate vai a pique, e leva Simon LeBon – além de toda a turma do Duran Duran/birosca pro fundo do mar.
É por isso que eu não fico chateado, e até me divirto.
(Agora, aqui entre nós, caros leitores, eu às vezes sou ou não sou melhor que o LaFontaine no quesito “Moral da História”, hein?...)

Um comentário:

dani disse...

muito bom... além de letras para a banda, agora vai ter que escrever fábulas pro juquinha!